A Sífilis, uma infecção causada por bactéria, geralmente transmitida por relação sexual, já fez milhares de vítimas devido a surtos ocorridos no passado. No entanto, ao contrário do que muitos pensam, a doença continua sendo um grave problema de saúde pública, já que atinge cerca de 12 milhões de pessoas no mundo, anualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em Mato Grosso do Sul, o número de casos de Sífilis entre a população indígena preocupa. Pois um levantamento realizado pela pesquisadora da área de Enfermagem, Zuleica Tiago, egressa da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), revela que a doença atinge, principalmente, gestantes, sendo a maioria das etnias Guarani Ñhandeva e Guarani Kaiwoá.
Segundo a pesquisadora, foram contabilizados casos de Sífilis entre a população indígena ocorridos entre 2011 e 2014. Também foram calculadas a incidência e a distribuição da doença entre gestantes com sífilis, sífilis congênita (quando a mãe passa a doença para o bebê) e de forma “Adquirida”.
Nos casos de Sífilis Congênita, os números nos povos indígenas variaram entre 6 casos para cada 1.000 nascidos vivos e 10,7 casos para cada 1 mil nascidos vivos.
A taxa é muito maior do que as metas estabelecidas pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), acordadas pelos países das Américas, para a redução da incidência da Sífilis congênita para menos de 0,5 caso para cada 1 mil nascidos vivos, até 2015.
Ainda segundo a pesquisa, a taxa de Sífilis em Gestantes mostrou-se ainda mais elevada em todos os anos, sendo que o maior valor ocorreu em 2013, quando a incidência foi de 45,5 a cada 1 mil nascidos vivos.
Segundo Ministério da Saúde, em relação aos casos de Sífilis Congênita no Brasil, em 2004 a taxa era de 1,7 para cada 1mil nascidos vivos, enquanto em 2013 subiu para 4,7 casos para cada 1 mil nascidos vivos.
Outro dado preocupante é a concentração dos casos da doença entre a população indígena da região sul do Estado. A análise da distribuição dos casos de Sífilis mostrou uma incidência de 91,3%, em especial, nos Polos de Saúde Indígena das cidades de Amambai e Iguatemi. Esses dois municípios juntos concentram 65,3% dos casos de Sífilis em Gestantes e 63,6% dos casos de Sífilis Congênita.
“No total foram registrados 473 casos de todos os tipos de Sífilis. As características da doença na população são determinadas por fatores socioeconômicos e culturais específicos. E impõe desafios na organização e estruturação dos serviços de saúde para fortalecer a vigilância epidemiológica da Sífilis e diminuir a incidência da doença entre indígenas no MS”, conclui Zuleica Tiago.
Os dados da pesquisa foram levantados com a ajuda do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI-MS). O trabalho foi realizado no âmbito do programa de pós-graduação em Saúde da Família da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), sob orientação dos professores Rivaldo Venâncio da Cunha, da UFMS, e Rui Arantes, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Mato Grosso do Sul concentra a segunda maior população indígena do país, com 77.025 pessoas autodeclaradas indígenas, das quais 61.158 vivem em aldeias (79,4%). Os DSEI-MS são responsáveis pelo atendimento em 75 aldeias e 26 acampamentos.
De acordo com a professora do curso de Enfermagem da UEMS, Fabiana Bergamashi, o que torna a sífilis muito preocupante é o aumento da Sífilis congênita e em gestantes. “A Sífilis na gestante tem risco de o bebê nascer morto, ocorrer aborto, além de consequências congênitas para a criança. A criança pode ter lesões neurológicas que podem levar a comprometimentos cognitivos, risco de paralisias cerebrais nas suas diversas gravidades e também alterações oftalmológicas, cutâneas e hepáticas. Por conta destas preocupações as organizações têm procurado desenvolver estratégias de prevenção e de controle”, explicou a professora.
Aumentos de casos de Sífilis no Brasil
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2005 e 2014, mais de 100 mil casos de Sífilis foram registrados entre Gestantes no Brasil. Dados relacionados especificamente à Sífilis congênita (transmitida pela mãe ao bebê) revelam que, entre 1998 e 2014, mais de 104 mil crianças menores de 1 ano foram infectadas pela doença.
Para 2016, o governo trabalha com a projeção de que as notificações de Sífilis em gestantes cheguem a quase 42 mil casos no país, enquanto as infecções por Sífilis congênita devem superar 22 mil casos entre menores de 1 ano. O cálculo foi feito com base no aumento percentual registrado entre 2012 e 2013, de 25% e 18%, respectivamente.
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