Esta é a primeira ação do Projeto “De Gente pra Gente no Cárcere” (Reprodução)
Cuidar da beleza vai muito além da estética, ajuda a resgatar a autoestima e a fortalecer a autoconfiança para a construção de uma vida melhor. Com essa proposta, reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), na Capital, receberam esta semana a primeira ação do Projeto “De Gente pra Gente no Cárcere”, realizado pelo cabeleireiro Marcos Rogério Andrade Ferreira, do salão Studio Hair, em parceria com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen).
Entre cortes de cabelos, escovas, chapinhas e maquiagens, a felicidade proporcionada pelos cuidados especiais de beleza refletia seu significado no sorriso de cada uma das 20 reeducandas selecionadas para participar da ação, que durou o dia inteiro.
“Estou me sentindo num dia de princesa, nunca cuidei do meu cabelo, nunca cuidei de mim”, revelou a reeducanda Necy Rocha de Souza, 31, que garantiu em momento algum de sua vida ter sentado na cadeira de um salão de beleza. “Me entreguei às drogas e vivi muito tempo na rua, fiquei jogada, mas quero ser diferente”, afirmou.
Resgatar pequenos prazeres por meio do cuidado com a própria aparência representou um momento único, segundo a interna Flora Felícia Villarga, 25 anos, cuidado esses que acaba se perdendo ao longo do tempo atrás das grades. “A aparência física é muito importante, faz parte da nossa autoestima, mas a gente acaba deixando de se cuidar. Estou me sentindo muito feliz agora”, disse.
O projeto, segundo a diretora do presídio, Mari Jane Boleti Carrilho, reflete diretamente harmonia no convívio com as companheiras de cárcere. As escolhas pelas internas, conforme a dirigente, levou em conta primeiramente o critério social, como as que têm menores condições financeiras e não recebem visita da família; e também algumas custodiadas que trabalham e se destacam pelo bom comportamento.
Os trabalhos foram realizados no salão de beleza do presídio, onde são promovidos cursos profissionalizantes. No local, também trabalha diariamente a interna Keila Flecha Escabilha, que é cabeleireira e recebe pelos serviços prestados às demais.
A reeducanda também participou do projeto, ajudando a equipe do cabeleireiro e aprendendo um pouco mais com os profissionais. “É realmente um dia diferente, a gente acaba aprendendo alguma coisa nova. É uma troca de experiências”, comentou.
O diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, viu a ação como muito positiva e elogiou o trabalho da Diretoria de Assistência Penitenciária, na pessoa do agente Gilson de Assis Martins e sua equipe, “que não têm medido esforços para construir, a cada dia, mais parcerias que possibilitem a reabilitação das internas”.
O Projeto
De acordo com o idealizador do “De Gente pra Gente” e dono do salão, Marcos Rogério, o projeto surgiu há 15 anos, fruto de uma promessa que fez quanto em estava “em um momento difícil” de sua vida. Inicialmente, envolvia apenas a entrega de panetones a pessoas carentes, mas a sensação boa proporcionada pelo prazer em ajudar ao próximo, que realmente precisa de uma mão amiga, o fez ampliar a ação e a dedicar parte do seu tempo fazendo o que sabe: melhorar a aparência de pessoas; mas, nesse caso, sem cobrar nada por isso.
O projeto de embelezamento já vem sendo realizado há alguns anos junto a comunidades carentes da Capital e chegou ao presídio através da servidora penitenciária Edilena Rocha, que é cliente do salão de Marcos Rogério e trabalha na Divisão de Educação da Agepen. “Soube que ele tinha esse trabalho, então falei para ele do nosso presídio feminino. Ele apresentou a proposta à Diretoria de Assistência Penitenciária e à direção-geral da Agepen, e todos consideraram muito positivo”, comenta Edilena.
Segundo Marcos Rogério, o desafio de incluir o projeto no presídio é uma tentativa de aproximar as reeducandas ao que há fora dos muros da prisão, além de poder mostrar a iniciativa e chamar a atenção de órgãos públicos para o projeto. A intenção, segundo ele, é que a ação seja desenvolvida duas vezes por mês na unidade e que, no futuro, possa ser estendida a outras unidades prisionais femininas.
Outro foco do projeto é que as custodiadas possam ser capacitadas na área de beleza, por meio de parcerias que possam vir a ser estabelecidas, sob coordenação da Divisão de Educação da Agepen.
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