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Opinião

Eleições americanas alertam para mudança no perfil dos eleitores e no renascimento do pluralismo

Em artigo, senador Nelsinho faz análise após invasão à sede do Congresso americano

13 janeiro 2021 - 10h35Nelsinho Trad    atualizado em 17/01/2021 às 14h03

Enquanto o mundo assistia em choque a invasão à sede do Congresso americano na tarde de quarta-feira (06), durante o processo de certificação da vitória do presidente eleito Joe Biden, outro importante acontecimento se desenhava, demonstrando que é preciso estarmos atentos às mudanças sociais e políticas pelas quais está passando o mundo globalizado. Em regiões tradicionalmente republicanas, houve levantes de apoio à Joe Biden, candidato democrata, mas não porque condados mudaram de lado, e sim a porque a participação mudou e impulsionou fortemente a vitória em defesa das minorias. O perfil dos novos eleitores é diferente. São mais jovens, engajados, têm educação superior e estão fortemente conectados às redes sociais.

Enquanto acontecia a invasão ao Capitólio, o status quo do conservador estado sulista Geórgia era desafiado. O democrata Raphael Warnock, pastor evangélico de 51 anos, conquistava em segundo turno uma das duas vagas disputadas ao Senado dos Estados Unidos, fazendo história como o primeiro senador negro eleito pelo estado da Geórgia. Isso sem nunca ter se candidatado a nenhum cargo eletivo e tendo atuado nos últimos 15 anos como líder da Igreja Batista Ebenezer de Atlanta, a mesma onde o ativista pelos direitos civis da população negra Martin Luther King Jr. pregou até ser morto, em 1968.

A vitória de Warnock foi sobre a republicana, conservadora e milionária Kelly Loeffler, empresária, dona do time de basquete Atlanta Dream, e que já se posicionou em diversas ocasiões contra o movimento Black Lives Matter e apoia movimentos anti-LGBTQIA+, o que amplia o simbolismo desta vitória e inspira o debate sobre as questões raciais e de inclusão social.

Outro resultado vitorioso para os democratas, extremamente importante para o momento que estamos vivendo, e também apertado, foi a eleição de Jon Ossof, que venceu o republicano David Perdue. Com 33 anos, Ossof será o senador mais jovem dos EUA em 40 anos. Assim como Warnock, não teve carreira política prévia em Washington. Fez campanha pelo aplicativo de vídeos divertidos TikTok, focado na defesa das questões ambientais e contra a corrupção, é produtor de documentários e jornalista investigativo, casado com uma médica com quem namora desde o colegial, e derrotou um político tradicional que nunca havia perdido uma eleição.

É importante lembrar o peso da Geórgia como estado de onde partiram nomes dos mais importantes na luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, sendo o reverendo Martin Luther King Jr. o mais famoso.

Temos sempre que estar atentos para as mudanças das circunstâncias políticas e sociais, e vimos que nesse estado tradicional venceram dois personagens que outrora eram motivos de chacota. A tensão racial e a falta de representatividade sofridas durante todo o governo de Donald Trump podem ser apontados como fator para a votação em massa das minorias. Em 2018, Stacey Abrams, uma ativista dos direitos da comunidade, representante estadual por dez anos e candidata derrotada ao governo da Geórgia, em 2018, trabalhou para estimular eleitores a votar e nisso, levou 800.000 pessoas a se inscreverem como novos eleitores através de sua organização Fair Fight Action.

Neste contexto, é preciso observar com atenção o que está acontecendo nos Estados Unidos, com um movimento negro composto de gente jovem, com vitalidade que está conseguindo formar uma coalizão jamais vista nos Estados Unidos, porém uma coalizão unificadora, não polarizada. Estamos assistindo por lá um renascimento do pluralismo e por aqui acredito que não será muito diferente.

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