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Projeto para paraplégico andar de novo pode iniciar testes em humanos

24 fevereiro 2013 - 07h30Reprodução

O professor e pesquisador de Neurocências da Duke University Miguel Nicolelis continua otimista em relação a seu projeto Walk Again (Andar de Novo), apesar do ceticismo de colegas acadêmicos brasileiros. O projeto, que receberá recursos federais por meio do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lyly Safra (IINN-ELS), estuda as possibilidades da interação cérebro-máquina para superação de deficiências motoras. A meta é colocar um brasileiro paraplégico para caminhar e dar o chute inaugural da Copa do Mundo de 2014, usando uma veste robótica controlada pelo cérebro. Depois de experimentos bem-sucedidos com macacos e avanços nos registros das atividades neuronais, o consórcio internacional responsável pelo projeto se reunirá em março para anunciar as próximas etapas, que envolvem testes em humanos.

"Em 2014, bilhões de espectadores de todo o mundo vão lembrar do jogo de abertura da Copa do Mundo no Brasil por mais do que os gols marcados pelo time brasileiro ou pelos cartões vermelhos dados ao adversário. Nesse dia, meu laboratório na Duke University, que se especializa no desenvolvimento de tecnologias que fazem sinais elétricos do cérebro controlar membros robóticos, planeja um marco histórico na superação da paralisia", escreveu Nicolelis na Scientific American em setembro de 2012.

Os passos seriam controlados por sinais originários de seu cérebro, os quais seriam transmitidos de uma unidade do tamanho de um laptop em uma mochila que seria carregada por ele. O computador ainda traduziria sinais elétricos cerebrais, sendo que o exoesqueleto estabilizaria o peso do corpo e induziria as pernas robóticas do deficiente físico para coordenar os movimentos necessários.

Em entrevista exclusiva ao Terra, o professor Nicolelis admitiu que, apesar de significativos avanços, o projeto ainda engatinha, pois há muitos desafios pela frente. Mesmo assim, o neurocientista acredita que o marco histórico será alcançado ainda na abertura da Copa de 2014. Quanto ao ceticismo de outros profissionais da área, Nicolelis se defende dizendo que o questionamento só existe no Brasil e que o projeto tem uma complexidade enorme. “Só no Brasil se pensa que isso é ficção científica. Duas revistas, uma delas a Science, reconheceram o nosso trabalho no instituto de Natal”, disse.

O acordo a que o pesquisador se refere diz respeito aos R$ 41 milhões em recursos através da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação em uma parceria público-privada em um convênio com a Associação Alberto Santos Dumont, segundo informações do Portal da Transparência confirmadas pelo IINN-ELS.

O professor do Instituto de Ciência Biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Gatass, é um dos críticos do projeto. Gatass afirma que nenhum pesquisador no Brasil recebe um volume tão grande de dinheiro e que o projeto Andar de Novo é mais “voltado ao espetáculo do que para a ciência”.

Próximos passos
Entre os avanços alcançados pelo laboratório de Nicolelis na Duke Univesity nos Estados Unidos, está o registro de atividade de quase dois mil neurônios. O professor explicou o que esse avanço representa para o projeto Andar de Novo: “Quanto mais neurônios, maior a precisão e o número de movimentos que eles podem reproduzir. Aumentamos em 10 vezes o número de neurônios registrados simultaneamente em outros laboratórios... Nossas técnicas nos permitirão dobrar a nossa marca de 1.800 nos próximos meses”.

Nicolelis ainda destacou que a importância do Andar de Novo vai muito além da Copa do Mundo e dos benefícios de curto prazo do projeto. “Isso será o começo de uma indústria neurotecnológica. Paralisia, epilepsia, milhões de pessoas serão beneficiadas. Pessoas da área de comunicação, de eletrônica. A intenção é semear a indústria no Brasil. Não é só o projeto da Copa - é o Brasil participar da criação dessa indústria de neurotecnologia. Já existem várias empresas que lidam com essa tecnologia. As grandes empresas estão abrindo e criando suas divisões, como Google, Microsoft e Texas Instruments”, ressaltou.

Por isso, o consórcio internacional responsável pela condução do projeto se reunirá em março para anunciar as próximas etapas. Por enquanto, detalhes e datas são sigilosos. Já se sabe, no entanto, que os testes com seres humanos estão previstos para “os próximos meses”, segundo Nicolelis.

Dificuldades
Apesar do anúncio de saída de cerca de 90 pesquisadores, técnicos e alunos em julho de 2011, o diretor científico do instituto, Rômulo Fuentes, reafirma que os objetivos com relação ao projeto Andar de Novo serão cumpridos em sua totalidade. 

“A saída de alguns professores da UFRN não teve impacto algum, nem na rotina do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, nem no Projeto Andar de Novo. Nenhum desses pesquisadores estava envolvido no projeto Andar de Novo”, explicou em entrevista exclusiva ao Terra Fuentes. 

Um destes estrangeiros que participaram do projeto Andar de Novo foi o argentino Diego Laplagne, professor da Universidade Rockefeller. Ele denunciou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que existem práticas autoritárias no instituto de Nicolelis. Laplagne teria sido proibido de assistir a uma palestra do também argentino Pedro Beckingstein, que atualmente leciona na Universidade de Cambridge. 

Um dos fundadores do IINN-ELS, o neurocientista Sidarta Ribeiro, da UFRN, atualmente pesquisando os mecanismos eletrofisiológicos e moleculares da consolidação de memórias, foi um dos cientistas que deixaram o instituto. Para o Terra, ele não quis comentar a respeito dos motivos que o levaram a tomar essa decisão, mas ressaltou os benefícios de seu ingresso em outra instituição: “Estamos muito satisfeitos no Instituto do Cérebro, com plena liberdade para realizar pesquisa, ensino e extensão. As decisões são tomadas de modo colegiado e fraterno pelos docentes, visando à qualidade científica e a harmonia interpessoal”.

A visão
"Dificuldade burocráticas e incertezas científicas abundarão até que a nossa visão se concretize", reconhece Nicolelis em seu artigo na Scientific American. "Mas eu não posso deixar de imaginar como será a breve e histórica caminhada até um campo verde para 3 bilhões de pessoas testemunharem um paralítico brasileiro se levantar, andar de novo com sua própria vontade e por fim chutar a bola para um gol inesquecível para a ciência, na terra que aperfeiçoou esse belo jogo", encerra.

Via Terra

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