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Esportes

Minotauro revela sonho de mudar Brasil com trabalho social

25 março 2012 - 15h24Murilo Meirelles

Alunos e curiosos se acotovelam na arquibancada erguida no interior da academia Team Nogueira, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, no Rio. Estão ansiosos para ver o treino de "sparring", que simula uma luta real. No octógono, uma jaula com oito lados, está o baiano Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, um dos maiores mitos do MMA, o antigo vale-tudo. O ano era 2009.

Minotauro, 35, um gigante de 1,91m e cujo peso gira em torno de 109 quilos, havia sido campeão do Pride e do UFC, os dois principais campeonatos internacionais da modalidade. O que o fez invencível foi a combinação de jiu-jítsu com boxe e luta greco-romana.

Para a surpresa do público, o negócio começou mais quente do que o esperado. Ficou claro que o que era para ser uma demonstração - seu oponente não era um lutador profissional, além de ser bem mais baixo e magro - deixara de ser uma brincadeira.

Sem titubear, o adversário foi para cima. Conseguiu uma chave de braço. Minotauro ensaiou "bater" - no jargão das lutas, sinalizar desistência por meio de três tapinhas no corpo do oponente. "Rapaz! A academia estava cheia de alunos. E eu querendo desistir. Pensei em 'bater' com o dedo para não passar vergonha", conta hoje. Seu adversário? O ator baiano Wagner Moura.

"Quando ele chegou, pensei, 'Vou bem tranquilo, é um ator...' Ele me surpreendeu. No fim, dei um jeito. Mas suei, o cara é forte." Um pôster do filme "Tropa de Elite", pendurado em uma parede da academia, serve de lembrança daquele treino. Se Wagner conquistou o respeito de Minotauro, é recíproco o carinho da parte do ator.

"Imagine... Nem se eu nascesse de novo teria a chance de fazê-lo desistir. Baiano forte. Fui lá treinar e me receberam com o maior carinho e respeito", comenta Wagner, em referência também ao irmão do lutador, Rogério, o Minotouro, irmão gêmeo de Minotauro, outro contratado do UFC (sigla em inglês para "Ultimate Fighting Championship").

Com o fim do japonês Pride, o UFC domina o cenário internacional do MMA, lutas que misturam socos e chutes com técnicas de solo. Demorou para "pegar" no Brasil, apesar de os brasileiros serem destaque na modalidade e a luta ter DNA brasileiro.

O MMA foi inventado pela família Gracie e começou como competições de jiu-jítsu, esporte que eles praticam, contra lutadores de outras modalidades, como a greco-romana.

A ideia era demonstrar que o jiu-jítsu é a forma superior de combate. Mas as coisas acabaram se misturando e dando origem a um novo esporte. Agora virou febre, muito por mérito do paulista Anderson Silva, o "Spider", o melhor lutador do momento. O UFC já realizou no Rio de Janeiro dois de seus eventos, com cobertura no mundo inteiro. No Brasil, os direitos são da Rede Globo.

Moleque ruim
Se chegou a pensar em desistir da luta com o ator global, quando a coisa é "para valer", a ideia não passa pela cabeça de Minotauro. Foi assim em seu último combate, na edição de número 140 do UFC, em dezembro, contra Frank Mir, no Canadá.

Durante o duelo com o americano, depois de praticamente ter nocauteado o rival, o brasileiro foi surpreendido por um golpe chamado "kimura", um tipo de chave de braço.

"De repente, ouvi um 'pá'. Meu braço estava quebrado. Não acreditei. Depois, vi no teipe da luta: minha expressão não é de dor, mas de surpresa", conta o lutador. "Dei uns cutucões para ele me soltar, não tinha mais como ganhar", lamenta.

Na luta, indagava, em silêncio: "Por que Deus não me deixa vencer esse cara? E logo ele que é um moleque ruim..."

Quando Minotauro e Mir foram treinadores de equipes rivais do reality show "The Ultimate Fighter" (que ganha edição brasileira a partir de hoje, na Globo), o americano humilhava os garotos de sua equipe que eram derrotados.

"Ele abraçava os que ganhavam. Os que perdiam chamava de 'loser' [perdedor, em inglês]", lembra. "Os meninos vinham desabafar comigo, e eu dizia que luta é assim mesmo, um dia você ganha, no outro, perde."

A doçura de Minotauro é uma de suas características mais marcantes e surpreendentes. Com gestos contidos, fala baixo e raramente se altera. A não ser no octógono, é claro.

Bilhões
Quem passou muitas noites em claro para acompanhar essas apresentações - já que as lutas passam durante a madrugada por causa do fuso - foi o empresário carioca Eike Batista.

O bilionário proprietário do grupo EBX pediu para ser apresentado a Minotauro e disse a ele: "Vocês eram duros mesmo, não sei como aguentavam aquele castigo".
"As lutas não eram o problema", o guerreiro respondeu. "O difícil era ficar longe da minha filha [Tainá, hoje com 11 anos]", disse ele, que se separou da ex-mulher em 2001. "Ela hoje treina vôlei. É uma pena. Quando ela fazia judô, tínhamos mais assunto."

Mas não foi apenas para rasgar seda que Eike Batista quis conhecer o lutador. Após comprar a empresa de marketing Brasil 1, e, percebendo o potencial do MMA, o homem mais rico do país começou a investir no esporte. Pôs na mesa uma proposta para lançar franquias da academia dos irmãos Nogueira e reforçar o projeto social que já é tocado por eles.

"Começo todo mês correndo atrás de R$ 40 mil, R$ 45 mil. Minha academia tem alunos que pagam mensalidade, mas também mantemos 45 jovens a quem fornecemos treinamento, reforço escolar e alimentação. O projeto com o Eike prevê atendermos 3.000 jovens em centros espalhados pelo Brasil", diz o lutador, que completou o ensino médio.

Mas não é só com o projeto social que Minotauro estende sua mão. Três amigos que ajudou em tempos de vacas magras são justamente os três brasileiros campeões do UFC: Anderson "Spider" Silva, José Aldo e Junior Cigano. "Só faz sentido ter sucesso se você puder dividir isso com os outros. Isso retorna."

Sobrevivente
Um episódio na infância do baiano ajudou a imprimir em seu subconsciente a convicção de que nada pode feri-lo. "Me lembro como se fosse hoje...", diz, como se tivesse sido transportado no tempo para 1988. Rodrigo tinha 11 anos e vivia em Vitória da Conquista, na Bahia, onde nasceu.

Havia uma festa na rua. Um caminhão estacionou, e todos os meninos correram para subir na carroceria. O motorista bronqueou: "'Desce daí', ele gritou e já ligou o caminhão". Assustados, os meninos começaram a pular, um por um, para fora do veículo já em movimento. A maioria pelas laterais.

Um único garoto saiu pela traseira, escorregou e caiu. Sem vê-lo, o motorista manobrou o caminhão em sua direção: uma roda passou por cima de perna direita do garoto. As outras por cima da barriga e do ombro.

"Mãe, mãe, mãe", gemia o garoto, enquanto era acomodado no banco de trás do carro, no colo do pai, para ir ao hospital. Os parentes da mãe, todos médicos, realizaram eles mesmos a primeira operação. Rodrigo despertou do coma induzido depois de cinco dias, com múltiplas fraturas e um pulmão comprometido.

O fígado, também atingido, funcionava com apenas 20% de sua capacidade. Foi preciso um semestre para que o órgão voltasse ao normal. Ficou no hospital um ano, e sua recuperação total aconteceu dois anos depois. Tinha tantas cicatrizes que, no início da carreira de lutador de MMA, aos 25 anos, era chamado de Robocop Baiano.

Se o corpo ficou marcado, o espírito ficou até mais livre. "Uma coisa dessas aumenta sua autoconfiança. Depois do acidente, acho que ninguém pode me machucar." Com essa mentalidade, foi acumulando títulos. Cruzou o mundo e venceu no Japão, em 2001, o campeonato Pride, título que defendeu durante dois anos, em lutas épicas lembradas até hoje.

Em 2008, foi consagrado também no americano UFC. Foi o primeiro lutador dos pesados a vencer os dois campeonatos. "Naquela época, ainda chamava vale-tudo e era muito diferente. Não tinha esses patrocínios, não era conhecido. Não tinha muita regra, em alguns torneios as lutas eram feitas sem luvas", lembra o campeão. "Eu nem queria entrar nisso, achava muito violento [pela falta de regras à época]. Só comecei por insistência do pai de uma namorada do Rogério [Minotouro]", lembra.

Logo Rogério seguiria os passos do irmão, ganhando o apelido de Minotouro. Mas, pelos amigos, os irmãos são chamados de Minota e Garrote. Afetuosamente, é claro.

Via Folha

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