O DJ Danilo Bachega afirma que a vida noturna em Campo Grande é fraca e justifica dizendo que o motivo é dos próprios campo-grandenses, que não valorizam os empreendimentos daqui. Ele ainda comenta sobre a diferença entre um DJ de balada e de festa social e reforça a necessidade de o profissional dessa área estar em constante reciclagem, já que hoje, com a internet, o acesso às novidades é mais fácil para qualquer um. Também fala sobre a responsabilidade de ser “a alma” da festa e dos cuidados que se devem ter com intervenções musicais.
Jornal de Domingo - Como é a noite de Campo Grande?
Danilo Bachega - A noite em Campo Grande é muito fraca, ela perdeu muito o que foi há cerca de 15, 20 anos. Hoje não há opção para noite. As opções são fazer um happy hour, sair para jantar e depois ir para casa. Então a noite de Campo Grande é muito fraca. Isso é culpa de nós mesmos, porque não valorizamos os próprios empreendimentos daqui. Um exemplo disso são as casas noturnas, em qual delas você sai pra dançar? Nenhuma, porque não tem. Até entre restaurantes as opções são restritas. Nós não valorizamos os investidores daqui. Campo Grande já teve grandes baladas, grandes nomes. Um bom exemplo disso é o Renato Ratier, que explodiu no mundo e começou aqui. A D-Edge é considerada mundialmente porque ele lutou por aquilo e Campo Grande não abraçou a causa, não acreditou. Outro exemplo é o pessoal do Garage, do Madalena, do Tango. Então antes tinha balada, tinha sertanejo, tinha pagode, tinha música eletrônica... Tinha um pouco de tudo e espaço para todos os públicos. Hoje não temos nada.
Jornal de Domingo - Acha que Campo Grande tem festas muito caras?
Danilo Bachega - As festas se tornaram muito caras. Você sai para jantar e gasta uma média de 200 reais pelo casal. Numa festa open bar e open food, você come e bebe a noite toda. Isso tem um custo. Hoje, nós estamos cada dia mais exigente com a questão de atração musical e com esse boom da marca DJ, os cachês começaram a ser astronômicos. Só para termos noção disso, um DJ de música eletrônica foi o campeão de bilheteria na Expogrande esse ano, que foi o Alok. E isso significa que as pessoas estão cansadas de um estilo só, elas querem coisas diferentes. Por isso eu falo que as festas se tornaram caras.
Jornal de Domingo - O DJ é a “alma” da festa, como você encara essa responsabilidade de animar todo mundo?
Danilo Bachega - Quando eu pensei em ser DJ foi 1994, 1995, minha família estava tocando uma rádio e eu tinha meus 14, 15 anos. Nessa época eu fazia festinha em casa e queria aprender a tocar, achava lindo aquilo. Eu comecei a trabalhar na rádio e eu vejo que tenho uma essência de rádio. Quando você trabalha em rádio, sendo programador musical, você escolhe as músicas para as pessoas escutarem e a rádio você nunca sabe quem está escutando, mas se as pessoas não gostarem da música, elas vão embora. Então nessas festas que eu faço, principalmente sociais, eu penso que o DJ é a alma da festa, sim, e é responsável pelo sucesso de tudo. Se você vai a uma festa que tenha bebida e música boas,você vai ficar na festa, agora se você tiver uma comida boa e não tiver uma música legal, você vai comer e ir embora. A responsabilidade de um DJ é muito grande e cada dia o público é mais exigente, é mais fácil o acesso musical para as pessoas. Antes eu tinha de importar disco, que só chegava no Brasil depois de três, quatro meses. Então tinha um tempo para isso e hoje basta ter acesso à internet. Com isso ficou muito fácil ser DJ e muita gente cai de paraquedas na profissão, mas não é algo tão simples assim,porque se não tomarmos cuidado, podemos acabar com o sonho de uma pessoa.
Jornal de Domingo - Como você se atualiza?
Danilo Bachega - Me atualizo 24h por dia. Apesar de vir da rádio, hoje eu escuto muito pouco rádio, porque acho que virou um meio de comunicação de massa, que briga por audiência. Eu vim de uma época em que a rádio lançava artista, música, fazia as coisas acontecerem. Hoje vejo que acontece o contrário. E o mercado de DJ precisa se reciclar sempre, fazendo pesquisas, usando internet, até o próprio spotify dá uma referência do que é o mercado nacional e internacional, mas há sites da Bilboard, por exemplo, e outros específicos. Eu fiz um casamento recentemente que o cliente me pediu muito jazz, então eu precisei pesquisar ainda mais.
Jornal de Domingo - Dois ritmos que têm dominado as pistas e rádios são o eletrônico e o sertanejo. Toca os dois?
Danilo Bachega - Sim. Como vim de rádio, eu aprendi a ser muito eclético. E como trabalho com muitos eventos sociais, preciso mesmo ser muito eclético. Eu entendo que não posso colocar meu gosto musical numa festa, posso colocar meu temperinho. As músicas estão aí, são iguais, mas o DJ tem de apresentar essa música de um jeito diferente e é isso que eu procuro fazer. Às vezes me sinto incomodado com algumas músicas, com letras, com coisas que eu não gostaria que meus filhos escutassem, mas infelizmente eu tenho de tocar, porque essa é a minha profissão e eu não estou aqui para fazer o meu gosto musical e sim o do meu cliente. E hoje o DJ está limitado a dois estilos: sertanejo e funk. Temos de lidar com essa situação.
Jornal de Domingo - Existe diferença do DJ da noite para o DJ de casamentos?
Danilo Bachega - Sim. Quando você vai a uma festa como um casamento, você não vai preparada para dançar, você vai preparada para se confraternizar. Então o DJ tem de preparar a noite para você. Essa é a grande diferença de um DJ de festas sociais para um DJ de balada. O DJ de casa noturna não toca mais de 1h30 2h. Geralmente se olhar o line-up tem três, quatro DJs, porque cada um toca um pouco. O mesmo não acontece numa festa de casamento, por exemplo. Por isso é cobrado um valor diferenciado também, porque a festa começa às 20h e vai até às 5h. Além disso, as pessoas não chegam na festa e vão direto para a pista de dança. Primeiro elas comem, bebem, tiram fotos. Então o DJ precisa preparar todos esses momentos. Já na balada as pessoas vão para ouvir o que a casa noturna está proporcionando. Quando eu toco em balada eu prefiro tocar meu som e esqueço essa necessidade de ser eclético
Jornal de Domingo - Como é feita a escolha das músicas para diferentes públicos? Rola improviso?
Danilo Bachega - Quando faço o briefing da festa, preciso deixar muito claro com os clientes o que eles querem que toque e o que eles não querem de jeito nenhum. Já tive cliente que quis sertanejo e funk a noite toda e já tive outros que não queriam nada disso e outros ainda que queriam de tudo um pouco. Tocar tudo um pouco não erra, porque é o arroz com feijão. Quando você determina um estilo só ou excluiu outros que são muito essenciais hoje na parte musical, você delimita seu público. E sempre acontece de algum convidado pedir um estilo e eu ter de negar. E eu geralmente não vou com uma playlist muito definida, claro que dou uma mapeada naquilo que eu acho legal tocar dentro das escolhas dos noivos e dou um temperinho meu.
Jornal de Domingo - E como vê esses projetos de intervenção de instrumentos, como violino e sax?
Danilo Bachega - Eu tenho um projeto com sax há cinco anos. Não é um projeto de ontem, que daqui a pouco vai acabar. Pode ser que daqui a algum tempo enjoe, mas é reciclado e o repertório vai sendo mudado. Hoje eu penso que existe uma sede de ser muito diferente que acaba sendo brega. Então é preciso tomar muito cuidado com essas intervenções. Num primeiro momento pode ser muito legal. Quando eu fiz a primeira escola de samba num casamento foi em 2004, 2005. A escola entrou, ficou 40 minutos e foi uma loucura. Hoje não tem mais escola de samba em casamento porque ninguém aguenta mais. Porque as primeiras músicas são legais, mas depois cansa. E intervenções são legais por isso, porque não tiram o foco da festa. Por isso inventar demais pode acabar atrapalhando e isso pode acabar queimando um bom produto.
Jornal de Domingo - Como é a sua estrutura? Existe mais gente trabalhando no apoio?
Danilo Bachega - Hoje a parte de DJ sou eu e mais um DJ. A empresa é dividida
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