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OPINIÃO: O Maluco Favorito

Na guerra das insanidades políticas, perdemos todos

12 setembro 2025 - 08h43Walter Carneiro Jr    atualizado em 12/09/2025 às 15h59

Enquanto se escolhe o “maluco favorito” — seja de direita, de esquerda, do Judiciário e até de fora do País, a democracia, que deveria ser o único pacto inegociável no processo de construção nacional, vai sendo relegada ao papel de coadjuvante. O Brasil já mostrou no passado que é capaz de construir consensos. 

Nos anos 1980, vivemos a redemocratização. A Constituição de 1988 firmou o pacto da liberdade. Em 1989, Lula e Collor disputaram a primeira eleição direta para presidente em quase três décadas. O país se dividiu, mas respeitou as regras do jogo. FHC, Mário Covas e Lula, adversários ferrenhos no campo político, mas respeitosos nas relações pessoais, tinham clareza de que a política é conflito, mas conflito dentro das margens da democracia e das relações civilizadas. Hoje, a cena é a negação desse espírito. O adversário virou inimigo. O Parlamento é palco de sabotagem. CPIs viram instrumento de propaganda. A Constituição, quando não ignorada, é reinterpretada como peça descartável. 

O resultado é um país que já não debate. Apenas, grita. Tiramos de cena a disputa eleitoral e colocamos no lugar a polarização afetiva. Resultado: vivemos em campanha perpétua, sem tempo para respirar e pensar nas soluções para os problemas reais do País. Dias atrás, ouvi do meu pai, o ex-deputado estadual Walter Carneiro, aos 83 anos, resumir a tragédia nacional: “Vivemos tempos em que cada um terá de escolher o seu ‘maluco’ favorito. Tem o maluco de direita, o maluco de esquerda, o maluco do Judiciário, o maluco internacional. Infelizmente, tive que dar razão a ele. Estamos atônitos, sem rumo, sonhando que a sociedade exija mais racionalidade no trato com a gestão pública e menos espetacularização performática nas redes sociais. Vejo hoje todos defendendo convicções cegas, sem olhar para a sociedade, para o mundo, ou para as normas da convivência democrática. 

Os pilares da República estão esquecidos. Rogo a Deus que possamos retomar a normalidade de nossas vidas. O diagnóstico de meu pai é emblemático, duro, mas certeiro. O país parece refém de um concurso de radicalismo. No lugar de estadistas, surgem personagens que se vendem como encarnações da pátria, mas que, no fundo, apenas disputam a primazia de gritar mais alto. 

A democracia, que não rende espetáculo, é tratada como uma notinha de rodapé. Mas é justamente essa rotina sem glamour — ou seja, a de respeitar regras, conviver com adversários, aceitar limites, ouvir opiniões com as quais não concordamos sem desqualificá-las — coisas básicas que garantem estabilidade e harmonia. É pouco? Talvez. Mas a alternativa é o abismo, os rompimentos pessoais, as famílias contrariadas, ou seja, a ruptura social baseada na raiva e no ressentimento. Por isso, antes de escolhermos nossos “malucos favoritos”, seria prudente escolher o caminho construtivo da democracia, aquele caminho que busca resolver os problemas da desigualdade social, da educação, da saúde, da segurança, enfim, os caminhos do crescimento econômico, da sustentabilidade e do bem-estar geral das pessoas. 

A história já mostrou que insistir no atraso e no retrocesso institucional não é apenas um erro, é uma maluquice que pouco a pouco nos inviabilizará como País.
 

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