Menu
Menu
Busca domingo, 14 de dezembro de 2025
CCR Vias - Movida - Nov-Dez25
Opinião

‘Achismos’, coisas e tal...

09 julho 2010 - 00h00Antonio Gonçalves

O caso envolvendo o goleiro Bruno Fernandes Souza, do Flamengo, e a jovem Eliza Samudio, de 25 anos, enseja a cada dia mais e mais teorias acerca do que pode ter acontecido com a jovem e também qual o envolvimento do jogador com os supostos crimes.

De fato, o caso teve um período agudo com o depoimento de um parente, menor, do goleiro que afirmou ter sido contratado pelo jogador para matar a jovem com o auxílio de Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como "Macarrão".

E a cada novo indício se desenvolve uma nova teoria acerca do caso: homicídio doloso, seqüestro, cárcere privado, lesão corporal, ocultação de cadáver são apenas alguns dos crimes que diuturnamente são atribuídos a Bruno e seus amigos e parentes.

De concreto, temos o indiciamento de Bruno e Luiz Henrique pelos crimes de seqüestro, cárcere privado e lesão corporal e de outras pessoas ligadas ao caso, inclusive, a esposa do goleiro. A opinião pública já se manifestou ferozmente com gritos de “assassino” contra o jogador e a confirmação de que o sangue no carro do goleiro é mesmo de Eliza Samudio apenas corrobora para agravar ainda mais a opinião negativa.

No entanto, o que temos até o presente momento são uma série de achismos e teorias, porque, de fato, enquanto o corpo não for encontrado ou não houver provas contundentes, sejam materiais ou testemunhais que confirmem a morte de Eliza, a tese de homicídio não deve e não pode ser levada a cabo.

Esses ‘achismos’ passam, inclusive, pela modalidade de pedido de prisão: preventiva ou temporária? Os requisitos para a preventiva são, de acordo com o artigo 311 do CPP: 1) garantia da ordem pública; 2) garantia da ordem econômica; 3) por conveniência da instrução criminal; 4) para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.

Já a prisão temporária, baseada na Lei n. 7960/89, prevê, de acordo, com o artigo 1, III, b: “quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°)”. Exatamente o estágio em que se encontra o goleiro e os demais, logo a prisão correta a ser pedida pelo MP foi a temporária, em consonância com a justiça do Rio de Janeiro e em contrariu sensu a justiça de Minas Gerais que decidiu pela expedição de prisão preventiva, o que deve ocorrer após os trâmites no Rio de Janeiro serem concluídos, uma vez que o inquérito tramita em Minas.

Ademais, o que ainda não é possível é considerar Bruno culpado por assassinato, primeiro porque nem processo ele ainda responde, uma vez que o inquérito policial ainda não foi concluído. Segundo porque em momento algum se apurou se realmente ele foi o autor de um eventual delito, portanto, existem apenas muitas especulações, porém, as certezas ainda estão um pouco distantes do momento presente.

É leviano elencar crimes e relacioná-los ao goleiro e seus amigos/parentes, contudo, a cada dia fica mais claro que algo, de fato, ocorreu. Mas, se foi Bruno, “Macarrão” ou um terceiro ainda é muito prematuro, como ainda falta se completar nesse quebra-cabeça, a função/importância da esposa do goleiro que apareceu com o filho de Eliza logo na sequencia de seu desaparecimento.

De concreto, até o momento, num olhar jurídico de observador, temos uma possibilidade concreta de que Bruno responda pelos crimes de seqüestro, cárcere privado e lesão corporal, e sua esposa Dayanne Rodrigues do Carmo Souza provavelmente também responderá por crimes relacionados à criança, já que foi vista em sua posse logo após o desaparecimento da jovem.

Os fatos e tipos penais serão mutantes até a conclusão do inquérito e tudo poderá ganhar novos contornos se e quando o corpo da jovem for encontrado.

A verdade aparecerá, é apenas uma questão de tempo, pois com a diligência das provas, da polícia e com os depoimentos as lacunas serão preenchidas.

Que se indiciem os culpados, mas não se faça uma caça às bruxas injustificada com uma cruzada pela defesa do indiciamento por homicídio por conta e força da opinião pública ou dos achismos e outras coisas presentes até então.

* Antonio Gonçalves é advogado criminalista, especialista em Criminologia Internacional: ênfase em Novas armas contra o terrorismo pelo Istituto Superiore Internazionale di Scienze Criminali, Siracusa (Itália);  em Direito Penal Empresarial Europeu pela Universidade de Coimbra (Portugal); membro da Association Internationale de Droit Pénal - AIDP. Pós-graduado em Direito Penal - Teoria dos Delitos (Universidade de Salamanca - Espanha). Mestre em Filosofia do Direito e Doutorando pela PUC-SP. Fundador da banca Antonio Gonçalves Advogados Associados, é autor, co-autor e coordenador de diversas obras.

 

Reportar Erro
Cartorio - Dez25

Deixe seu Comentário

Leia Também

OPINIÃO: RMCom: 60 anos  O abraço que atravessa gerações
Opinião
OPINIÃO: RMCom: 60 anos O abraço que atravessa gerações
Advogado especialista em Direito Eleitoral, Vinicius Monteiro
Opinião
Desinformação eleitoral e inteligência artificial: os novos limites da liberdade de expressão
Bosco Martins, jornalista e escritor
Opinião
Opinião: 'O Agente Secreto' e a sensação de 'já acabou?'
Imagem ilustrativa
Opinião
OPINIÃO - MS Cannabis: ciência, futuro e oportunidade
Foto: Fernando Donasci/MMA
Opinião
Opinião - COP30: Um chamado global que começa em cada gesto nosso
Eles voltavam da escola
Polícia
VÍDEO: Motorista atropela duas crianças e foge sem prestar socorro em Três Lagoas
Sistema do TJMS -
Justiça
Justiça de Sidrolândia será a primeira a usar novo sistema eproc do TJMS
Ilustrativa
Opinião
OPINIÃO: O novo desafio da educação
Corpos em área de mata foram levados para a praça da comunidade
Justiça
Defensoria do RJ aciona o STF após ser impedida de acompanhar perícias de mortos
Advogado especialista em Direito Eleitoral, Vinicius Monteiro
Opinião
OPINIÃO: Fidelidade partidária e os novos contornos para 2026

Mais Lidas

O município recebeu três mil unidades e tem registrado alta procura
Saúde
Capital oferece Implanon gratuito no SUS para mulheres de 18 a 49 anos
Vídeo: Após vídeo com críticas à UPA, médica é exonerada em Campo Grande
Cidade
Vídeo: Após vídeo com críticas à UPA, médica é exonerada em Campo Grande
Homem foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros | Imagem ilustrativa
Polícia
Homem sofre exposição de osso do crânio após ser agredido por pessoas no Los Angeles
Polícia Civil e Científica estão pelo local
Polícia
VÍDEO - AGORA: Caminhoneiro é encontrado morto em pátio de posto de Campo Grande