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Opinião

Flexibilizar o currículo do Ensino Médio é a solução?

09 maio 2011 - 00h00Antonio Sérgio Martins de Castro

Antes de criticarmos a educação básica, seja referente ao Ensino Fundamental ou Médio, é necessária uma análise de inúmeros parâmetros envolvidos para não cometermos injustiças.

As estatísticas comprovam que, no Ensino Médio, o aprendizado dos estudantes apresenta níveis alarmantes. Comenta-se também que há uma pequena evolução no Ensino Fundamental, mas que não ocorreu no estágio seguinte, como era esperado. Numa visão recudionista, poderíamos afirmar que o problema está nestes três últimos anos da escola.

Analisando algumas questões dos programas de avaliação oficiais, percebemos que, na matemática, por exemplo, alunos do 3º ano do Ensino Médio não conseguem resolver um problema simples de proporção. E porque isso acontece? A visão que temos hoje do Ensino Médio nos mostra um currículo que estabelece conteúdos em um grau de complexidade e aprofundamento maior que no Ensino Fundamental. Mas o entendimento na matemática de proporções não ocorreu. Falha no Fundamental? Também não podemos concluir dessa forma!

Então, vamos relacionar alguns parâmetros que nos permitam realizar uma análise mais verdadeira da educação brasileira. A formação de professores é a primeira delas. Diante de tantas mudanças ocorridas nas políticas educacionais, pouca atenção foi dada à preparação deles. Pontualmente, algumas universidades públicas tentaram e ainda tentam promover encontros com docentes de algumas áreas específicas. Mas é muito pouco, é necessário reestruturar os cursos de graduação relacionados à carreira.

Outro ponto é a valorização da carreira, já que décadas de descaso com os docentes, produzidas por políticas públicas ineficientes na educação, acarretaram uma evasão dos cursos voltados ao magistério. E não se trata apenas da remuneração do profissional, mas também do elevado número de alunos nas salas, da falta de segurança e de recursos básicos na manutenção das unidades escolares.

Também destaco o currículo. Isso porque mudanças foram realizadas no Ensino Fundamental ao longo dos últimos anos, porém poucas foram as alterações no Médio. Além disso, as modificações propostas no currículo dos três anos finais produziram uma carga horária na maioria das vezes incompatível com algumas áreas. Diante de uma cobrança permanente das universidades, com seus vestibulares extremamente conteudistas, ficou praticamente impossível desenvolver todos os temas existentes na programação exigida por elas.

Na rede particular, boa parte das escolas foi ampliando suas cargas horárias a fim de tentar proporcionar tempo hábil para a execução dos programas. Já na rede pública de São Paulo, tínhamos situações que se assemelhavam a verdadeiros ”leilões”. Um exemplo disso é o que ocorre na área de ciências da natureza (disciplinas de física, biologia e química), onde a coordenação e os professores tinham que escolher entre uma ou duas aulas semanais em um determinado ano do Ensino Médio. É praticamente impossível trabalhar com os conteúdos dessas disciplinas como são cobrados atualmente, tendo apenas uma aula por semana.

Os exames de avaliações oficiais (SAEB, SARESP, ENEM) vêm nos mostrando que mudanças precisam ser feitas e com urgência. Porém, se não solucionarmos principalmente as questões referentes à formação dos docentes, sua valorização e também os currículos de uma forma geral, tais mudanças podem não acontecer e continuaremos tendo resultados sem progressos.

A flexibilização do currículo do Ensino Médio pode ser um fator importante para que as mudanças surtam efeitos positivos. Mas preocupa muito o fato de que escolas (diretores, coordenadores e professores) produzam mudanças significativas em seus currículos entregando a execução dos trabalhos aos professores com formação deficiente. Pode ocorrer um efeito contrário e a situação se agravar. Também é necessário que as universidades acompanhem de perto as mudanças curriculares para que elas promovam processos seletivos que estejam compatíveis com essa realidade.

Uma coisa é certa. Nossos jovens fazem parte de uma geração tecnologicamente avançada, com recursos ao seu redor que proporcionam a obtenção de informações de maneira rápida e em tempo real, mas ainda carecem de uma atenção especial. O chamado “funil” do Ensino Médio nos mostra uma realidade em que fazer escolhas é muito difícil, especialmente no que diz respeito à carreira a ser seguida. A rede pública tem vagas insuficientes e poucos têm condições de custear uma universidade particular.

Precisamos formar melhor estes jovens para o mundo. É extremamente importante que eles tenham verdadeiras oportunidades de continuar sua formação, seja ela para o mercado de trabalho ou para prosseguir com seus estudo no nível superior.

Antonio Sérgio Martins de Castro é coordenador pedagógico e Gerente de Mídias Digitais dos Sistemas de Ensino da Editora Saraiva

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