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Opinião

Giro de consciência

30 maio 2015 - 00h00Bruno Peron
Dr Canela
Neste texto, dou minhas impressões sobre a dificuldade dos brasileiros de renunciar a seu interesse próprio em prol da coletividade. Uma mistura de “jeitinho” com insipiência cívica caracteriza-nos como país em busca de nação neste momento tão incerto de corrupção, inflação e violência.

Enquanto escrevo estas linhas, milhões de brasileiros culpam a presidente da República (Dilma Rousseff) por deixar de representar bem seu eleitorado que se crê instruído, ilibado e produtivo. Basta uma comparação entre esferas de atuação para comprovar que brasileiros são, em realidade, muito bem representados por seus deputados, governadores e chefes de Estado.

Refiro-me às dezenas de milhões de meio-cidadãos que se portam como selvagens numa calçada, num volante e noutros lugares. Tais brasileiros não se deveriam surpreender com os desmandos e as prevaricações de outras esferas. Há que reconhecer deveres cívicos em qualquer nível de interação e culpar-nos pelo funcionamento ineficaz e ruim da sociedade.

Por isso, merecemos serviços de qualidade baixa quando a luz acaba com o menor vento, cabos de empresas de telefonia abarrotam os postes, serviços de reciclagem inexistem, e o vizinho liga o som alto até tarde. Há um cenário de falta de cooperação entre meio-cidadãos sem perspectiva de ver seu país tornar-se a “potência emergente” que os vaidosos do Itamaraty apregoam.

Temos comprovado o contrário das expectativas de “potência emergente” no Brasil: aumento de desemprego, redução de poupanças, subida dos preços, cinismo de políticos, e desespero gritante de uma população que trabalha para que metade de seus rendimentos financie o Maquinário. Este, por sua vez, tira de quem produz para financiar milhões de funcionários públicos, a classe de servo que vira algoz, de garantidor que vira censurador.

O Maquinário desvirtuou as culturas de servidão e garantia. Ao mesmo tempo, é preocupante que as médias de salários sejam tão altas em cidades como Boa Vista (Roraima) e Brasília (Distrito Federal). Ambas cidades são um ônus degradante num país tão bruto, desigual e miserável. Habitantes dessas cidades jamais cederiam seus privilégios pela prosperidade coletiva do Brasil, por mais que reconheçam que vivem protegidos da miséria.

Essa relação entre concursados privilegiados e empreendedores frustrados é um exemplo de colonialismo interno. A estrutura burocrática do Maquinário deixado pelos portugueses é tão eficiente em garantir a estabilidade de burocratas quanto emperrar o progresso daqueles que realmente produzem riqueza. O colonialismo externo é aquele que fez Portugal parasitar o Brasil durante séculos em troca de pau-brasil, açúcar, ouro e sexo desregrado.

Logo, não se poderia imaginar uma civilização num território onde convergiram ambições, dores, escravidões e tristezas. A menos que, ao longo dos séculos, seres de bem acendam sua luz para dissipar as trevas e educar os ignaros. Há que anular a insipiência dos meio-cidadãos do Brasil.

Falta, sem dúvida, a emanação de uma vontade coletiva que distribua conquistas e levante irmãos com sede de progresso. O Brasil tem anseio de mudanças e seu povo, de instrução. Há que valorizar a renúncia ao interesse próprio em garantia de conforto maior à coletividade. Da mesma forma que ensejaríamos conforto coletivo, outros poderiam também trazê-lo para nós.

Deixaremos, portanto, de colocar nos outros (inclusive em chefes de Estado eleitos democraticamente, como Dilma Rousseff) a culpa por nossas desgraças. Mesmo em nosso cotidiano vivido fora de palácios e regalias, há micromundos em que poderíamos reforçar nossa instrução cívica.

Assim, deixaríamos de demandar tantos direitos e passaríamos a cumprir deveres. Brevemente, notaríamos uma revolução cultural em brasileiros, que são tão mal acostumados porque cultuam o dominador e desprezam o fraco. Em síntese, nosso esforço começa num giro de consciência.

Bruno Peron

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