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Opinião

O fascínio da violência

02 setembro 2014 - 00h00Rodrigo Bertozzi
Como viver neste mundo tão sombrio? Precisamos ser acrobatas para livrar-nos do estigma vermelho-rubro da violência que cerca e pune os inocentes. Creio que a semente do mal existe no coração humano desde o princípio da civilização, na origem dos primeiros grupos sociais. Será que estamos nos acostumando com a brutalidade de nossos dias? Até quando as vozes da barbárie irão nos aprisionar? Em que tempo nos libertaremos dos sons da maldade?

Dizem que uma minoria comete atos de violência, mas a grande massa vive em um eterno teatro das contemplações, relegados ao papel de mero observador das tragédias nacionais e mundiais. O ser humano somente se preocupa com a violência ¾ delícia televisiva ¾ quando seu longo braço destruidor o abraça. O bem e o mal caminham dentro de uma linha muito tênue, um umbral do pecado. Somos o predador incansável, a moléstia da natureza, o vírus aniquilador da própria raça.

As artes também revelam o nosso fascínio pela violência desde a tradição oral das mitologias, a literatura, os quadrinhos até o cinema moderno. A literatura serve como uma fotografia reflexiva e móvel da sociedade, e, dentro deste contexto a violência é tema recorrente nas lutas pelo poder ou pela simples inveja.

Desde Sófocles (Trilogia Tebana), passando por Shakespeare, chegando até a moderna literatura urbana de Rubem Fonseca, o ser humano tem o seu retrato capturado com as cores da violência. Sim, esse foi um século trágico, não houve sequer um único dia sem conflitos, lutas por ideologias mortas, racismo, intolerância religiosa, crimes domésticos, urbanos e rurais, politicagens e rapinagens.

Da antiguidade aos nossos dias, a batalha está no saber distinguir entre o bem e o mal, e não considerar, passivamente, que o inferno precise estar necessariamente em nossos corações ingênuos (será mesmo?). Quem pode afirmar que nunca desejou estrangular um adversário? E a maldade que brota dos lábios brutos, levando os outros ao desespero, também não seria uma forma de violência? Qual a herança que deixaremos? Somente, pelo menos em princípio, o sarcasmo ficará como feliz produto de nossos dias infindáveis.

Ainda é possível crer nas doces e poderosas palavras de Sócrates e Jesus: Conhece-te a ti mesmo/ Amai ao próximo como a ti mesmo. É o simples retorno do belo, do indivíduo, talvez, ouvindo estas pequenas lições dos mestres possamos resolver nossa cretinice de simples espectadores.

Quais as saídas? A mudança do olhar, a transformação kafkaniana do ser humano? Talvez com o toque de Deus sugando a semente podre de nossos corações, poderemos esperar um futuro melhor e mais digno.

Devemos abandonar esse mísero teatro das contemplações. Enquanto houver um único suspiro de miséria, este não será um mundo perfeito. Ou como definiria Charles Dickens em suas últimas obras, mesmo existindo um mundo injusto, o que nos salva é a fé e a esperança.

Talvez, mas apenas talvez, a simplicidade da alma possa salvar a todos nós...

Rodrigo Bertozzi - escritor, autor dos livros “Um Futuro Perfeito”, “O Senhor do Castelo” e “Depois da Tempestade".

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