No dia em que completou 57 anos, Christiane Melo dos Santos da Silva enterrou o filho, Dhiogo Melo Rodrigues, de 19 anos, encontrado morto com um disparo de fuzil dentro das dependências do Comando Militar do Oeste (CMO), em Campo Grande. A data que deveria ser de celebração se transformou em um retrato da dor e da indignação de uma mãe que diz ter sido ignorada, ridicularizada e silenciada pelo Exército.
Christiane relatou ao JD1, desde o início do serviço militar, o filho demonstrava sofrimento psicológico e afirmava não querer continuar. “Meu filho reclamava muito. Voltou da formatura sujo, ralado e machucado. Sempre fechado e com medo das consequências que poderia sofrer se falasse algo interno”, contou. Segundo ela, o jovem era alvo de deboche e humilhações, inclusive por apresentar traços de autismo.
“Inúmeras vezes relatei ao comandante, ao tenente, a quem eu encontrava nas dependências do quartel e sempre debochavam. Até de autista zombavam que ele era, pois diziam que não levava jeito para o operacional”, relatou a mãe, emocionada.
Dhiogo era descrito como alto, magro, metódico e reservado. A mãe chegou a pedir que ele fosse transferido para outra função, em áreas como tecnologia ou logística, para reduzir o risco físico e emocional. “Nunca lhe foi prestado nenhum tipo de socorro psicológico”, lamenta.
O jovem foi encontrado morto na guarita onde prestava serviço de sentinela. O Exército afirmou que realiza “testes psicológicos periódicos”, mas até agora não apresentou nenhum laudo que comprove o estado mental do soldado ou sua aptidão para portar arma de fogo.
Christiane também denuncia o procedimento irregular após a morte do filho. Segundo ela, o corpo foi removido sem perícia no local, e houve tentativa de encaminhamento ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), o que impediria a apuração das causas. Apenas após a insistência da família, o corpo foi enviado ao Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), onde passou por necropsia.
“Fiquei mais de duas horas com o corpo do meu filho dentro de um saco, esperando liberar. Um descaso total”, afirmou.
A família ainda aguarda o laudo necroscópico e pretende registrar boletim de ocorrência para exigir investigação independente sobre o caso.
Em nota de repúdio, os parentes de Dhiogo afirmam que o jovem foi vítima de negligência e violência institucional, em um ambiente marcado por pressão psicológica e maus-tratos a recrutas.
“Não se trata apenas da morte de um soldado, mas da perda irreparável de um filho, de um irmão e de um jovem que tinha toda uma vida pela frente, vítima de um sistema que deveria protegê-lo, não destruí-lo”, diz o texto divulgado pela família.
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Dhiogo faleceu na tarde de ontem (Reprodução)



