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Brasil

Dilma Rousseff: 100 dias do governo

09 abril 2011 - 18h57AE
Dilma Rousseff completa neste domingo, 10, 100 dias no cargo de presidente da República com o feito de ter dirimido a dúvida mais mordaz lançada contra ela por seus opositores durante a campanha eleitoral do ano passado: seria Dilma, criada à imagem e semelhança de Lula, capaz de comandar o País sozinha? Para silenciar os críticos nesse quesito, a primeira mulher a ocupar a Presidência fez questão de imprimir a marca de uma governante austera e discreta.

Tais características provocaram comparações inevitáveis com seu antecessor e padrinho, um político afeito aos discursos e ao embate direto com a oposição, a mesma oposição que, para fustigá-lo e tentar enfraquecer seu mito, passou a elogiar o jeito de Dilma comandar o País. A presidente, no entanto, nunca incentivou de público esse paralelismo, ainda que na política externa e na questão dos direitos humanos tenha adotado medidas frontalmente contrárias à atuação de Lula na área.

Os afagos da oposição se restringiram à forma. No PSDB e no DEM, ganham corpo as críticas ao conteúdo: "gastança" do governo, desaceleração do PAC e ameaça de inflação. O corte de R$ 50 bilhões no Orçamento não convenceu o mercado e os opositores de que as contas públicas estão sob controle. Dúvidas de gestão à parte, resta ao fim dos 100 dias a certeza de que Dilma se impôs. Parafraseando o francês conde de Buffon (1707-1788), para quem "o estilo é o homem", hoje "a mulher é o estilo".

Pulso firme

A presidente Dilma Rousseff completa 100 dias no gabinete do terceiro andar do Planalto sem dar margem a dúvidas sobre a capacidade de controlar o próprio governo. Com palavras ríspidas em conversas reservadas e gestos sutis em público, ela aproveitou a "lua de mel" e a força de governante em início de mandato para enquadrar aliados, centrais sindicais e empresários e bloquear personalismos.

Num lance duplo, a presidente petista chegou ao centésimo dia do governo da primeira mulher presidente do País reforçando seu poder político e impondo a imagem de gestora. O pragmatismo, cultivado em um revezamento nos papéis de "técnica" e "articuladora", ajudou em parte a esconder o fato de que, à semelhança dos antecessores, seu governo distribui cargos com o mesmo viés fisiológico de sempre, porém sem embaraço - e essa distribuição está longe do fim.

Logo após ser eleita na esteira da popularidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e indicar nomes fortes para o ministério como Antonio Palocci, Dilma deixou claro, em entrevista em novembro, que não aceitaria a fama de "rainha da Inglaterra". "Quando há o sol bem violento que atinge a cidade, sou a favor de sombra. Mas quanto às demais sombras, não acho que sejam compatíveis", disse ela sobre a hipótese de ter outros líderes no seu encalço.

Foi a relação de Dilma com Lula, no entanto, o que ganhou destaque nas análises sobre a presidente que não conseguiu ser chamada de "presidenta" fora do círculo de subordinados. Ela causou estranheza em assessores que passaram pelo governo anterior ao silenciar diante da tese da blogosfera de que os elogios recebidos eram uma forma de seus opositores tentarem desconstruir a imagem de Lula.

"A segurança de que está sendo leal ao antecessor permite que a presidente se mantenha afastada desse debate", avaliou um ministro próximo dos dois. O desprezo de Dilma pelas insinuações e a decisão de impor uma marca de governo ficou evidente na visita, no mês passado, do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil. Ela convidou ex-presidentes para o almoço no Itamaraty, entre eles o tucano Fernando Henrique Cardoso, alvo contumaz dos ataques de Lula.

Enquanto silenciou diante da suposta desconstrução do mito Lula, Dilma executou antigos sonhos do ex-chefe, como a degola de Roger Agnelli do comando da Vale, uma aposta numa área sensível do mercado. A companhia agora é chefiada por Murilo Ferreira, um simpatizante.

A presidente gosta de ser tratada com deferência e demonstrar prestígio e autoridade, observou outro assessor. Isso facilita a relação com o vice Michel Temer, do PMDB, na avaliação do mesmo auxiliar. Nos encontros com a presidente, Temer abusa do cerimonial e dos ritos e sempre observa a hierarquia.

Ela demitiu a vice-presidente de Tecnologia da Caixa, Clarice Coppeti, mulher de Cezar Alvarez, um ex-assessor direto de Lula. Semanas antes, Clarice avisou que deixaria o cargo caso fosse confirmado o afastamento de Maria Fernanda Coelho do comando do banco. Maria Fernanda também foi demitida.

O temor de ser comparada ao mito Lula seria um dos motivos de Dilma não ter dado atenção aos insistentes pedidos de aliados de redutos tradicionais do ex-presidente para participar de eventos públicos. Ela tem ignorado o know-how do governo passado em se comunicar e dialogar diretamente com os grotões, por meio de uma rede de aliados.

No debate do reajuste do mínimo, no qual enfrentou as centrais sindicais para manter o valor de R$ 545 mensais, e na repercussão da revolta de operários da usina de Jirau, Dilma, porém, recebeu provas de que a aliança com movimentos sociais, agora costurada pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), se mantém forte.

No script.

Auxiliares da presidente dizem estar certos de que a distensão na briga com os opositores e o fim das cerimônias com jeito de comícios foram previamente acertados com Lula. Sobre essas diferenças, o ex-chanceler Celso Amorim disse que "provavelmente" não votaria resolução da ONU contra o Irã, numa crítica ao sucessor, Antonio Patriota. O que alguns classificam de "discrição" outros avaliam como falta de criatividade. "Eu ainda não vi nada no governo Dilma. Ela bate ponto", diz o cientista político Francisco Weffort, ministro da Cultura do governo FHC. "Ao menos, ela tem a vantagem de não gritar o tempo todo, a verborragia do Lula. Já é uma grande coisa."

Um dos segredos do governo é mostrar que, mesmo quando cede a barganhas, Dilma foi quem tomou a decisão final. Exemplo: ela tirou o controle de Furnas das mãos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspeito de aparelhar a administração do fundo de pensão da elétrica. Mas, em seguida, pôs no comando da estatal Flávio Decat, da sua cota pessoal, ligado à família do senador José Sarney (PMDB-MA) e citado nas gravações da Operação Boi Barrica, da PF.

Sarney ganhou dois ministérios: Minas e Energia e Turismo, entregues respectivamente a Edison Lobão e Pedro Novais - que, quando deputado, usou dinheiro da Câmara para pagar despesas em um motel.

Aliados do Planalto se esforçam em manter a cautela ao falar sobre as diferenças de estilo de Dilma e Lula. Em discurso na quinta-feira, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT), afirmou que a presidente manteve programas de Lula e tem luz própria. Segundo ele, Dilma tomou medidas alternativas ao aumento de juros e conseguiu dosar medidas fiscais, sem prejuízo para os investimentos. O deputado cita o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento - anunciado pelo Planalto, mas por ora obscuro. "Ela mantém o firme propósito de gastar menos e gastar melhor", afirma.

No comando do oposicionista DEM, partido em processo de perda de filiados, o senador Agripino Maia (RN) diz que a presidente tenta curar a "febre" da inflação quebrando o "termômetro". "O Brasil vive o dilema de combater a inflação com um remédio de terrível efeito colateral, tornando-se um grande importador", afirma.

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