Do livro escrito por Lewis Carroll, apenas o título ficou. Dirigido desta vez por James Bobin, conhecido como diretor de "Os Muppets" e os "Muppets 2", o filme difere - e muito - da abordagem tragicômica e talvez mais aprofundada de Tim Burton, diretor do primeiro filme da sequência, "Alice no País das Maravilhas".
No quesito visual, o filme parece não pecar. Os elementos visuais, que vão desde a fotografia de cores deslumbrantes até a criação do personagem "Tempo", meio homem e meio relógio, que tem no lugar do coração, um relógio, talvez façam jus ao imaginário sedutor do autor do clássico, Lewis Carroll. Os efeitos especiais, essenciais em qualquer filme que se preze sobre viagem no tempo, são elaborados e imersivos. O enredo, entretanto, de onde apenas os personagens saíram do livro, a esperteza, imaginação e domínio da linguagem do autor foram características bem pouco exploradas.
Aconteceu, talvez, o que acontece em muitas readaptações de clássicos literários para o cinema - inclusive no primeiro filme de "Alice". O "nonsense" do autor foi readaptado para uma história envolta apenas pelo fantástico literal, repleto de referências à questões já comuns à audiência: a viagem no tempo na busca de "salvação" de alguém, o debate filosófico sobre o aprendizado do passado para melhorar o futuro, nada de novo sob o sol. O "Wonderland" - País das Maravilhas - se tornou apenas um "Underland" - país de "baixo". Não que no primeiro filme a abordagem mágica do autor tenha sido também devidamente explorada, mas os diálogos e as falas, cheia dos fantásticos trocadilhos de Carroll, se fez mais presente do que nesta sequência. Da magia linguajar de Lewis, apenas um diálogo em que Alice diz que a loucura do Chapeleiro Maluco é seu "muchness" - ou sua muiteza, na tradução para o português, para representar. O que acontece é que, como diria o próprio Chapeleiro Maluco, o filme perdeu a "muiteza" da história de Carroll.
As críticas da imprensa internacional sob o filme em suma recaem sobre este mesmo ponto - a falta de fidelidade à imaginação do autor do clássico. As reflexões trazidas pelo filme, entretanto, ainda valeram sua produção. Apesar de clichê, o enredo que gira em torno das consequências da viagem do tempo nos traz à tona lições já "batidas" mas ainda importantes a serem pensada principalmente pelo público infanto-juvenil, para o qual o filme foi claramente destinado. Os ensinamentos em torno do significado do Tempo, personagem que pode ser considerado uma "bola dentro" do filme e muito bem representado pelo comediante Sacha Cohen, talvez sejam subestimados pelo público adulto que deveria sempre se lembrar que os clichês são clichês por algum motivo.
Por fim, e sem mais spoilers, o valor da entrada da cinema ainda vale. O expectador, porém, deve ir sem esperar o mundo fantástico idealizado por Lewis Carroll em seus livros e tentar abrir a mente para as lições pouco fantásticas mas ainda importantes que o filme pode trazer.
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