Mato Grosso do Sul tem se destacado como referência em energia limpa e bioeconomia no Brasil. O mais recente exemplo é o Projeto Macrofuel, desenvolvido pelo Instituto Senai de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa), em Três Lagoas, que conquistou a primeira patente internacional da instituição, publicada nos Estados Unidos.
A tecnologia, que também recebeu patente no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), transforma plantas em biocombustível sustentável a partir da pirólise rápida de macrófitas aquáticas presente nos reservatórios de Jupiá e Ilha Solteira, próximos a Três Lagoas nas usinas hidrelétricas da CTG Brasil, oferecendo uma alternativa inovadora e com aplicação direta na indústria.
Pesquisador industrial, Paulo Renato dos SantosAo JD1, o pesquisador industrial Paulo Renato dos Santos, gestor do projeto, explica que após os resultados obtidos em escala laboratorial, a equipe do ISI Biomassa, em parceria com a CTG Brasil, avalia a chamada Fase 2 do projeto para construir uma planta de produção piloto, capaz de processar maiores volumes de biomassa e gerar lotes de biocombustível que possam ser testados em motores. “Hoje produzimos em pequena escala e validamos as amostras em laboratório certificado. Para avançar comercialmente, precisamos de equipamentos mais robustos e testes em condições reais”, detalhou Paulo Renato.
O pesquisador reforça que essa transição será decisiva para inserir o combustível no mercado, consolidando Mato Grosso do Sul como polo de inovação em bioenergia.
Coleta com ribeirinhos
Um diferencial do Macrofuel está no envolvimento direto de comunidades ribeirinhas. A coleta das plantas aquáticas, inicialmente em quantidades menores, foi realizada com embarcações contratadas pelo projeto e com a mão de obra de moradores locais. A expectativa é que, com a expansão, os ribeirinhos sejam incentivados financeiramente, criando um ciclo que une preservação ambiental, geração de renda e melhoria da qualidade de vida.
Responsável por recrutar os ribeirinhos e atuando diretamente na coleta das plantas, o pesquisador Fernando Ferreira, Phd especialisa Consultar em Macrófitas Aquáticas, explicou que a formação de plantas aquáticas na região de Jupiá, alimentada pelas águas do Rio Tietê e do Sucuriú, é hoje uma das maiores do Brasil. “A gente recebe uma carga nitrogenada e fosfatada muito grande aqui do Tietê. Por isso temos esse movimento dessas plantas aquáticas, principalmente submersas causando impacto”.
O excesso de nutrientes gera proliferação intensa das espécies submersas, o que compromete tanto a biodiversidade quanto a geração de energia.
“As macrófitas são nativas e cumprem um papel de autolimpeza dos rios, mas em excesso viram um problema sério. Se uma grande massa dessas plantas atinge a usina, pode comprometer turbinas e afetar a produção de energia”.
O projeto trouxe uma solução inovadora ao transformar esse passivo em combustível, com envolvimento da comunidade ribeirinha. Uma negociação está em andamento para a implantação de uma usina no Rio Tietê e a próxima fase é escalonar o processo.
Descarbonização
O Macrofuel surge em sintonia com um movimento mais amplo de descarbonização no Estado. O uso de biocombustíveis já mostra resultados concretos em Mato Grosso do Sul. Em 2024, o estado registrou a maior redução percentual de emissões de gases de efeito estufa do Brasil, segundo estudo da FGV Bioeconomia. Foram 1,8 milhão de toneladas de CO emitidas — 6,6% a menos do que no ano anterior. Sem o uso de etanol, as emissões teriam sido 40% maiores.
A indústria também faz sua parte. A Fiems adotou o etanol como principal combustível de sua frota flex, reduzindo 235,6 toneladas de CO entre março e dezembro de 2024, o que representa queda de 35,32% em relação ao uso exclusivo de gasolina.
Ações institucionais reforçam o movimento. A campanha “Movido pelo Agro – Etanol”, promovida pela Famasul e pela Biosul, incentiva colaboradores a abastecer com etanol. Na primeira edição, foram consumidos 91.971 litros do biocombustível, evitando a emissão de 90 toneladas de CO — o equivalente ao plantio de mais de 600 árvores adultas. A nova fase da campanha vai até abril de 2026, com regras atualizadas.
Para o presidente da Biosul, Amaury Pekelman, os números confirmam o impacto positivo do setor. “O estudo da FGV mostra que o caminho da descarbonização passa pelos biocombustíveis. Mato Grosso do Sul demonstra na prática que o etanol e outras fontes renováveis são soluções reais e imediatas para reduzir emissões, ao mesmo tempo em que movimentam a economia.”
Mato Grosso do Sul conta hoje com 22 usinas de bioenergia em operação — 19 de cana-de-açúcar e 3 de milho — que empregam diretamente mais de 33 mil pessoas e movimentam a economia de mais de 40 municípios. O Macrofuel vem para somar a essa cadeia, agregando uma nova fonte renovável e sustentável.
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Coleta de macrófitas aquáticas em Três Lagoas (Arquivo pessoal)



