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Saúde

Técnico de Enfermagem, o desabafo de profissionais que se sentem desvalorizados

O JD1 Notícias conversou com pessoas que atuam na área e falaram sobre desvalorização, excesso de trabalho e desunião

20 maio 2020 - 11h32Gabriel Neves    atualizado em 22/05/2020 às 07h17

No dia 8 de junho de 1987, o Técnico de Enfermagem teve sua atividade devidamente regulamentada no Brasil, através da lei nº 7.498 no decreto nº94.406, esses profissionais atuam lado a lado de médicos e enfermeiros nos auxílios e cuidados de pacientes nas diversas unidades de saúde do país.

Nesta quarta-feira, 20 de maio, se comemora o seu dia, uma data para lembrar e refletir da importância do papel desenvolvido por esses profissionais na engrenagem da saúde pública e privada no país, estado e município.

 De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), com dados atualizados até 01/04/2020, o Brasil possui 1.320.239 técnicos de enfermagem registrados, destes 13.790 estão em Mato Grosso do Sul.

Pensando nesse dia, o JD1 Notícias conversou com técnicas de enfermagem que atuam ou atuaram na rede municipal de saúde e revelaram uma realidade de estresse, cansaço, desprezo de colegas, pacientes e até mesmo do poder público.

Nas conversas foram relatos momentos de pressão extrema, onde o profissional precisa cuidar da vida e saúde de pacientes, mesmo após 24 horas sem dormir, a desunião entre as equipes e profissionais de saúde e falta de reconhecimento dos trabalhos realizados, desprezo que já geraram até mesmo agressões físicas.

Entre os relatos, uma profissional revelou que a falta de condições de trabalho chega ao ponto de um único profissional cuidar de 20 pacientes ao mesmo tempo, em certos momentos não havia tempo para que os profissionais realizassem a limpeza terminal dos leitos (procedimento de limpeza realizado em leitos e áreas hospitales para a diminuição da sujidade e redução da população microbiana).

Através do celular nós conversamos com Ana (nome fictício utilizado para preservar a identidade da entrevistada), logo no inicio da conversa já fomos apresentados a uma rotina exaustiva de trabalho de uma profissional que atua no Centro De Especialidades Médicas (CEM), em Campo Grande.

Ana revela que o trabalho no CEM e eventuais plantões em UPAs é como trabalhar em dois empregos, além disso tem a faculdade e alguns “bicos” de acompanhantes, tudo isso para pagar as contas.

“Como os plantões são eventuais, ou seja, um extra é como se trabalhasse em dois empregos. Tem que conciliar, pois sem esses plantões nem as contas da para pagar, faço em media 14 plantões por mês, porque na prefeitura o máximo que pode fazer de extra são 14 plantões. Como tem a faculdade eu sempre opto por fazer 24h nos finais de semana e os dias que não tinha aula antes do covid-19 eu fazia plantão durante a semana e de lá ia direto para o CEM”, explicou Ana.

Impressionado com a carga horária trabalhada, questionamos Ana se todo o esforço é financeiramente compensatório, e a resposta foi rápida e clara, “É o suficiente, não sobra não”. Por isso os “bicos” ou “extras” são necessários, “as vezes da pra pegar outro extra como acompanhantes de paciente em hospital quando a família não pode ficar”, disse.

Toda essa rotina e horas trabalhadas geram um estresse e cansaço extremo, mas o pior de tudo, os pacientes e médicos não levam isso em consideração, “por mais que você esteja cansado com sono você tem que acertar, não é uma profissão que permite erros, existe muita cobrança. A parte mais pesada fica com a gente, mas as pessoas que chegam ali, os pacientes e acompanhantes, não sabe que você está ali faz 24h, os médicos também não”, complementou Ana.

Como em um desabafo, situações e sentimentos que precisavam ser ditos, Ana comentou sobre a desunião entre os profissionais da saúde principalmente na enfermagem, “a enfermagem em si é muito desunida, existem os colegas que tentam ajudar, mas existem aqueles que tentam te derrubar toda hora, aqueles que não fazem nem a própria parte e isso te sobrecarrega”.

No embalo de seu relato, Ana mostrou a insatisfação com a falta de reconhecimento de seus esforços, reconhecimento que não acontece por parte da equipe.

“Alguns enfermeiros, bem poucos, elogiam. Os médicos não, é só mais uma coisa que tem que ser feita e pronto, alguém tem que fazer, alguém vai fazer, não interessa quem para eles. Poucos que trabalham juntos elogiam a equipe, se der errado eles tentam empurrar a culpa pra gente”, desabafou Ana.

Pedimos um exemplo sobre o “empurrar a culpa pra gente” e Ana citou um fato que aconteceu recentemente na unidade onde trabalha, “dias atrás, na UPA, um médico esqueceu de prescrever a inalação (de um paciente), falou para o acompanhante que ia passar mas não prescreveu, e depois o acompanhante perguntou, falamos ‘não tem nada prescrito’, avisamos ele (o médico), que voltou e prescreveu, mas chegou no acompanhante e falou que a enfermagem que esqueceu de fazer”.

Ana explica que a falta de reconhecimento não acontece apenas por parte dos médicos, mas também dos pacientes, principalmente nas UPAs.

“Para a maioria das pessoas não existe técnico de enfermagem, é o enfermeiro e o médico só. Por mais que você faça um curativo na pessoa, todos os dias, duas vezes por dia e oriente-o, no fim ‘foi o médico que me curou’, eles não dizem a enfermagem, o técnico de enfermagem, é assim...” exprimiu Ana.

Caroline (nome também fictício) é técnica de enfermagem e também conversou com nossa reportagem, ela diz ter trabalhado durante três anos na Maternidade Candido Mariano, e não são boas recordações.

Enfatizando as precárias condições de trabalho, Caroline afirmou que já chegou a cuidar de 20 pacientes ao mesmo tempo, “cada técnico ficava com dez pacientes (dez mães) e o bebê contava, então a gente a gente ficava com 20, era uma demanda muito grande”, explicou.

Camila explica que toda essa demanda e trabalho excessivo fazia com que os profissionais não conseguissem realizar seus trabalhos de forma correta, “a gente não fazia uma terminal certa, a cada paciente que deixa o leito, a cada paciente que vai embora, você tem que fazer uma limpeza terminal e isso não acontecia”, revelou.

De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (Coren), a limpeza terminal é realizada após a saída do paciente, seja por alta, óbito ou transferência. Esse ato compreende a limpeza de superfícies, sejam elas verticais ou horizontais, e desinfecção do mobiliário.

“O Serviço de Limpeza e Desinfecção de Superfícies em Serviços de Saúde apresenta relevante papel na prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde, sendo imprescindível o aperfeiçoamento do uso de técnicas eficazes para promover a limpeza e desinfecção de superfícies”, afirma o Coren em seu site.

Assim como Ana, Camila falou sobre a falta de sintonia entre os profissionais que trabalham na área da saúde, “a gente tinha que correr atrás de médico para pedir receita, o médico não prescrevia, ia embora e então nós tínhamos que ir atrás do médico plantonista, as vezes ele não queria prescrever, pois ele não era o médico da paciente”, revelou.

Esses relatos mostram dificuldades diárias enfrentadas por técnicos e técnicas de enfermagem no dia a dia, um dos profissionais mais desvalorizados na aérea da saúde e, que por amor, ou pela necessidade de trabalho, levantam todos os dias para dar assistência aos necessitados.

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