Sem receber o adicional de periculosidade, os agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Campo Grande enfrentam perdas salariais significativas e desvalorização profissional. Segundo denúncias recebidas pelo JD1 Notícias, cerca de 70% do quadro atual de mais de 300 guardas já deixou a corporação, e a situação não tende a melhorar. “Ainda vai sair muito mais… quase todos estão desmotivados, sem esperança de melhorias para a categoria”, afirma uma fonte interna que preferiu não se identificar para evitar represálias.
O problema não se limita à remuneração. A mesma fonte aponta que a prefeitura de Campo Grande tem feito racionamento de combustível para as viaturas. “Sim, procede. Algumas viaturas são abastecidas apenas uma vez por semana. As motos estão em péssimas condições de uso, oferecendo riscos para quem as pilota”, diz o agente.
A situação, conforme relato dos próprios servidores, evidencia um descaso antigo por parte da gestão municipal. O não cumprimento dos enquadramentos, que deveriam ser realizados a cada três anos, prejudica o desenvolvimento da carreira dos guardas. “Todos os direitos precisam ser ajuizados, nada é automático. Ou seja, a tabela de promoções não é cumprida pelo Executivo municipal”, explica outro agente da Guarda.
Perda de direitos e promoções “fakes”
Ainda de acordo com relatos internos, a prefeitura de Campo Grande insiste em descumprir decisões judiciais que garantiram direitos aos servidores, como o pagamento da periculosidade. “É um direito já garantido em todas as instâncias, mas a Prefeitura insiste em descumprir a decisão”, afirma o agente.
Além disso, os próprios guardas assumem os custos de manutenção de alguns alojamentos, organizando vaquinhas para aquisição de materiais. As promoções realizadas recentemente pela administração ocorreram apenas no papel. “Houve enquadramento dos guardas habilitados, mas os valores referentes ao aumento salarial foram parcelados pela gestão”, denuncia a fonte.
A falta de combustível e a precariedade das viaturas obrigam as bases a “fazer milagres” para atender todas as demandas. Dos mais de 350 GCMs empossados no último concurso, em 2023, mais da metade já pediu exoneração.
Segundo os servidores, o vencimento base não é compatível com a função, o adicional noturno não é pago, o vale-alimentação está defasado e plantões extras foram cortados. “Enquanto a gestão não olhar com mais atenção para os agentes, o resultado será o mesmo: gastar com novos concursos e formação, e ver servidores saindo antes mesmo de terminar o estágio probatório”, ressalta a fonte.
Sem as promoções e readequações salariais, um guarda que ingressa na classe A recebe atualmente R$ 1.860,03. Com os reenquadramentos a cada três anos, o salário poderia chegar a R$ 16.248,37, uma realidade distante para os servidores.
Reflexo na segurança e no comércio
A situação tem impacto direto na segurança da população. Paulo de Mattos Pinheiro, diretor da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), aponta que a GCM desempenha um papel importante, mas sofre com a falta de investimentos. “A Guarda Municipal vem atuando dentro do possível, atendendo demandas de comerciantes e da comunidade. Mas faltam guardas, viaturas e investimento por parte da prefeitura”, disse.
Ele também destacou a importância da valorização das forças de segurança. “Nós queremos que o consumidor se sinta protegido ao vir ao Centro da cidade para fazer suas compras. Esse trabalho da Associação Comercial, trazendo Polícia Militar e Guarda Municipal para o policiamento ostensivo, possibilita ganho tanto para consumidores quanto para lojistas. Em todas as reuniões que fizemos, a segurança pública foi apontada como o principal problema da região central de Campo Grande”, afirmou.
Segundo Pinheiro, o policiamento comunitário realizado pela GCM facilita o atendimento das ocorrências, mas há falta de efetivo. Muitos guardas acabam sendo desviados para tarefas administrativas que não estão relacionadas ao policiamento. “Muitas vezes eles vão para a Câmara Municipal ou secretarias, fazendo funções de porteiro, em vez de realizar policiamento ostensivo”, explicou.
Ele também alertou sobre a insegurança no centro da cidade: “Temos moradores de rua em quantidade significativa, e as pessoas precisam estar atentas aos pertences e à própria segurança. A Guarda Municipal está fazendo sua parte, mas o efetivo é pequeno e a população também precisa colaborar com a própria segurança”.
Sindicato aponta necessidade de valorização e cumprimento da carreira
O Sindicato dos Guardas Municipais do Município de Campo Grande (SINDGM), através do presidente Hudson Bonfim, reforçou a necessidade de organização da carreira e valorização da categoria.
“O plano de carreira que construímos é muito bom, mas precisa ser classificado corretamente. Com isso, todos chegariam ao nível superior, melhorando a qualidade de vida da categoria. O aumento salarial, o vale-alimentação e o pagamento da periculosidade precisam ser regularizados. Hoje é difícil: congelamento de salários, auxílio-alimentação defasado e descumprimento de direitos”, afirmou.
Sobre denúncias relacionadas a combustível e condições de trabalho, o sindicato explicou que não é responsável pela operacionalização e não possui informações oficiais sobre abastecimento e manutenção de viaturas.
Em relação ao pagamento da periculosidade, existem 37 ações judiciais, entre individuais e coletivas, que aguardam perícia para a definição do percentual a ser pago. A maior parte dessas ações tem obtido êxito. Essa disputa judicial prolongada impacta diretamente os servidores públicos, que enfrentam a demora na garantia de seus direitos, e a sociedade, que percebe reflexos na insegurança cotidiana.
Cenário político
No cenário político municipal, o vereador André Salineiro (PL), policial federal, reforçou que a GCM merece valorização e remuneração adequada. “Temos uma Guarda Civil Metropolitana referência a nível nacional. Os profissionais são capacitados anualmente e servem de exemplo. Tivemos avanços no reposicionamento de mais de 900 servidores, mas lutas antigas ainda estão pendentes, como adicional de periculosidade, quinquênio e reajuste do vale-alimentação. Nossa Guarda merece valorização, que influencia diretamente na segurança pública”, defendeu.
Prefeitura de Campo Grande não se posiciona
A reportagem procurou a Prefeitura de Campo Grande para se posicionar sobre as denúncias de desvalorização, racionamento de combustível, condições das viaturas e atraso no pagamento de direitos, mas não obteve resposta. Da mesma forma, o secretário municipal de Segurança de Campo Grande, Anderson Gonzaga da Silva Assis, também foi contatado e não retornou com posicionamento.
A Capital opera atualmente em regime de contenção de despesas, conforme prevê o Decreto n.º 16.427, de 31 de outubro de 2025, que altera e acrescenta dispositivos ao Decreto n.º 16.203, de 7 de março de 2025. O documento estabelece medidas de contingenciamento orçamentário e contenção de despesas no âmbito dos órgãos e entidades da administração direta e indireta do Poder Executivo Municipal, restringindo investimentos.
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Diretor da ACICG afirma que situação tem impacto direto na segurança da população. (Reprodução)



