'É uma arte', diz idoso de 76 anos que foi tatuado pelo filho em Porto Alegre

Guido estava ansioso para desenhar uma 'flor da vida' no braço. (Foto: Cris Cleveston/divulgação Edu Tattoo)

Aos 76 anos, o aposentado Guido Notarnicola provou que idade não é limite para a realização de um desejo. Na manhã dessa sexta-feira (21), foi até um estúdio de tatuagem em Porto Alegre e deu ao filho um presente pessoal e profissional. Sem medo e, segundo ele, sem sentir dor, desenhou na pele geometrias e traços que representam a “flor da vida”. A gravura foi criada e tatuada pelo próprio filho, o artista Ricardo Notarnicola, de 48 anos.

A ideia surgiu há uma semana na casa da família. “É uma forma de retribuir a ele e retribuir à vida. Quero mostrar também para a terceira idade que é possível olhar com outros olhos a tatuagem. Tem de conhecer melhor, pois é uma arte”, contou Guido ao G1, sentado na cadeira do estúdio de tatuagem na Avenida Protásio Alves. Morador de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, foi à capital só para a tarefa.

Ansioso, Guido, apelidado de “Zagallo” pelos conhecidos, chegou cedo para fazer a tatuagem. Pouco antes da sessão começar, às 11h, já estava preparado. Não precisou usar nenhum anestésico na pele. “Na minha época de jovem não havia tatuagem. Era um conceito marginalizado. Isso mudou muito”, opinou o aposentado. O desenho de 10 centímetros, segundo ele, foi criação do filho. “Pedi para que ele escolhesse algo que tivesse a ver comigo. Casou bem o que eu queria”, apontou, satisfeito.

No braço esquerdo, magro e com a pele flácida pela idade, o filho traçou delicadamente uma flor, rodeada por traços geométricos pontilhados. Ricardo explica que a técnica foi escolhida com carinho para não agredir o idoso. “A maior dificuldade normalmente é na fase de curação. Não dá para saber o que vai acontecer depois. Por isso, não dava para fazer nada complexo”, explicou o tatuador.

Ricardo é paulista e mora em Ayamonte, na Espanha, há 24 anos, 12 deles desenhado arte na pele. Já o aposentado costumava trabalhar como gerente de uma empresa de consórcios e, nos últimos três anos morou em Porto Alegre, no bairro IAPI, e dividia o tempo dando aulas de sinuca. Há um mês ele se mudou para a Região Metropolitana, onde garante ter uma vida mais tranquila. “Longe do trânsito agitado”, reiterou.

Em Porto Alegre para a temporada de verão, Ricardo está trabalhando como artista convidado do estúdio de tatuagens e aplicação de piercings Edu Tattoo. “Esta foi a retribuição que posso dar para ele. É uma forma de retorno do que cada um faz. A primeira fase é o caminho deles para nós e agora eu dou de volta. Ele não pode ir embora sem uma tatuagem”, falou Ricardo sobre o pai Guido.

Apesar da distância entre os países, o resultado, marcado no braço do pai, abriu o sorriso da dupla, que agora tem mais um elo.

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