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Moradores de Pacaraima protestam uma semana após conflitos

Apesar de tensões na cidade, atos ocorreram sem incidentes

26 agosto 2018 - 16h18Da redação, com informações da Agência Brasil

Exatamente uma semana depois dos protestos que culminaram em atos violentos entre brasileiros e imigrantes venezuelanos, os moradores de Pacaraima, cidade do norte de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, fizeram nova manifestação no sábado (25). Segundo moradores da cidade, desta vez participam do protesto imigrantes venezuelanos e indígenas brasileiros que pedem apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e investimentos do governo federal na cidade.

O local do manifesto foi novamente a rua principal do comércio de Pacaraima, ponto de maior movimento da cidade. Também houve foco de protesto nas imediações da rodoviária, na BR-174, porta de entrada dos venezuelanos recém-chegados ao município brasileiro. Não há relatos de nenhum incidente.

Estopim

Para quem chega da Venezuela, a rua do comércio de Pacaraima é praticamente a primeira a ser vista pelos visitantes. É nela que ficou marcada a imagem dos últimos anos de centenas de famílias venezuelanas perambulando, pedindo ajuda ou simplesmente sentadas à beira do caminho.

Nessa rua teve início o protesto de moradores na semana passada contra a agressão a um comerciante idoso assaltado e espancado por assaltantes venezuelanos. A manifestação avançou pela rodovia, onde grande parte dos imigrantes ficava aglomerada, e culminou em atos violentos entre brasileiros e venezuelanos que estavam em situação de rua.

Enquanto a Polícia Civil de Roraima ainda investiga o que aconteceu no último sábado, o fato tornou-se um marco na história de Pacaraima. Em apenas uma semana, o clima mudou na cidade, e o drama dos imigrantes que ali se instalaram ganhou páginas de jornais do mundo todo.

Omissão

Há nove anos vivendo em Pacaraima, o padre espanhol Jesús López Fernández de Bobadilla relata que os desdobramentos do conflito entre brasileiros e venezuelanos representam um dos maiores desafios de sua vida. O pároco da cidade avalia que não se pode confiar na aparente calma da cidade, porque ainda há omissão do poder público e um clima de intolerância contra estrangeiros.

“Aparentemente há uma calma, mas é uma calma fictícia, falsa, enganosa. Não confio nada nela porque a violência continua no espírito das pessoas. Sempre digo que compreendo este vulcão que lança sua lava, mas não se justifica. Em alguns dias, não mudou nada. A raiva, a ira contra venezuelanos continuam. Aparentemente está oculta, mas a qualquer momento vai reaparecer. Isso vai depender das ações que a partir de agora o governo federal e as polícias mantiverem”, analisa.

O padre lamenta que a ação violenta tenha desembocado em pessoas inocentes, como crianças. Ele ressalta também que faltaram medidas que pudessem evitar o crescimento da xenofobia. “Essa ira deveria ser dirigida contra a passividade das autoridades. Confio em que o bom juízo e a cidadania voltem e cesse a violência dos dois lados. Porque, também da parte dos venezuelanos, há violências. Não cumprem nossas leis, há muito roubo, prostituição, drogas. E isso tudo desencadeia [violência]”, diz.

Desde a intensificação do fluxo migratório de venezuelanos para Pacaraima, o pároco da cidade atua na assistência social aos estrangeiros mais necessitados. Além de auxiliar na acolhida das famílias peregrinas, a paróquia oferece diariamente um café da manhã para os refugiados. Ali também são doadas roupas e outros itens de necessidade básica.

“Não houve medidas paliativas para conter essa violência por parte das autoridades ou foram muito escassas. De todo dinheiro que chegou aqui em favor dos venezuelanos, por que não destinou uma parte também para as necessidades dos pobres brasileiros? Essa é uma queixa que está no ar, na rua, e eu compartilho também. Houve também falta de integração de todas as instituições, a Igreja Católica incluída, para favorecer esta parte dessa população que se queixou”, comenta.

Clima de revolta

Segundo o representante da Associação Comercial de Pacaraima, João Kleber Soares, os protestos do fim de semana passado começaram de forma pacífica devido à revolta da população de Pacaraima com a agressão cometida contra o comerciante idoso na semana passada e os impactos negativos da migração venezuelana sobre a cidade.

Soares relata que pelo menos 80% dos comerciantes da cidade foram vítimas de assaltos, furtos ou arrombamentos desde 2015. Alguns dos casos foram registrados inclusive depois dos conflitos que motivaram a expulsão e fuga de milhares de venezuelanos de Pacaraima na última semana.

O comerciante conta que a manifestação estava tranquila até que alguns venezuelanos em situação de rua teriam se ofendido e reagido contra a passeata. Imagens feitas por Cléber também mostram brasileiros agredindo os venezuelanos com paus, pedras e ateando fogo nos locais de acampamento dos refugiados.

“Nós não pudemos julgar a pessoa por onde ela nasce e tampouco condenar ninguém. A manifestação que eu vi lá não foi contra venezuelano, nem pra expulsar quem quer que seja. A manifestação foi em busca dos direitos dos cidadãos brasileiros, que também são seres humanos”, afirma Soares.

Insegurança

Os moradores relatam que a força policial não está intimidando os atos criminosos e que o reforço no policiamento não foi suficiente para dar sensação de segurança. Muitos ainda temem que a situação não se resolverá tão cedo, por causa da disputa política em torno do problema. “Existe aí uma disputa de poderes entre a esfera federal e a esfera estadual, que estão em campanha [eleitoral]”, relata Soares.

Entre diferentes perfis de moradores, profissionais e autoridades da cidade ouvidos pela reportagem, é unânime a sensação de que o problema da segurança tem se agravado na região. Uma autoridade policial relatou à Agência Brasil que têm ingressado no país muitas pessoas com antecedentes criminais e falta filtro do serviço de inteligência da fronteira, principalmente do lado venezuelano.

Os principais flagrantes na fronteira da cidade são descaminho, contrabando, tráfico de armas e drogas. Há ainda a confirmação de que integrantes de dois grandes grupos do crime organização – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho – continuam atuando na região, aliciando imigrantes e alimentando o tráfico.

Questionado sobre esta questão pela Agência Brasil, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em visita a Pacaraima, disse que o ministério reforçou os recursos e o contingente de policiais que atua na região. Ele disse que o governo está adotando medidas para agilizar a interiorização dos imigrantes para evitar que eles fiquem expostos na fronteira.

“Infelizmente, esse processo de aliciamento das grandes facções não acontece só aqui em Roraima, mas evidentemente estamos preocupados com isso. Daí o reforço que estamos fazendo na Polícia Federal e também na Força Nacional é a reposta que damos a esta situação”, declarou o ministro.

 

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