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Esportes

Legado da Copa 2010: estádio deixa praça para o povo e grande rombo

20 março 2014 - 11h24Via Uol
Todo final de semana, o comerciante Esse Werner Fensice costuma repetir o mesmo programa. Com os três filhos, vai ao parque em frente ao estádio Moses Mabhida, construído para a Copa do Mundo de 2010, em Durban, na África do Sul. "Aqui podemos dizer que ficou um legado. Temos este espaço público que é muito bom", afirma Fensice, enquanto acompanha o filho jogando futebol com o estádio gigantesco de cenário.

Erguido à beira-mar, o Moses Mabhida é apresentado pelo governo local como um exemplo de estádio multiuso. Além do parque e de uma praça que foram construídos em frente, o palco de sete jogos da Copa do Mundo de 2010 - incluindo o empate entre Brasil e Portugal - conta com área pública de lazer, que funciona todos os dias da semana, com academia, restaurantes e lojas. Tem também outras opções para quem o visita, como um bondinho e até um bungee jump.

O problema é que apesar das atrações, que geram receita para a prefeitura, dona do estádio, a conta não fecha. Desde que foi inaugurado, em 2009, ele dá prejuízo. No último ano, o poder público municipal perdeu cerca de R$ 9 milhões. Somados os gastos com a construção, cerca de 3,4 bilhões de rands (R$ 850 milhões), com o custo de manutenção nos últimos quatro anos, o rombo chega a R$ 1 bilhão.

Até o ano passado, a gestão do estádio era feita por uma empresa contratada pela prefeitura. Após três anos de prejuízos seguidos, que, baseado no contrato assinado entre as partes, eram bancados pelo poder público, a cidade de Durban assumiu o controle das operações.

"Temos uma visão muito crítica sobre o custo do estádio e estamos focando em cortes em algumas áreas, mas já chegamos a um ponto que não podemos cortar mais. Ainda estamos lutando para encerrar o prejuízo", afirma Gary Kimber, gerente de operações do estádio.

Construído em forma de uma concha aberta, o Moses Mabhida tem capacidade para 54 mil espectadores. Durante a Copa, a pedido da Fifa, foram colocadas arquibancadas provisórias e a lotação chegou a 69 mil lugares. O único time que usa o estádio como casa é o AmaZulu FC, que parece não empolgar a torcida local. A média de publico em jogos em casa não chega a 5 mil espectadores, menos de 10% da capacidade do estádio.

"É um problema que enfrentamos na África do Sul, apenas Kaizer Chiefs e Orlando Pirates (clubes de Soweto) conseguem bons públicos", explica Derek Blanckensee, gerente-geral de futebol da PSL, liga profissional de futebol, que organiza o campeonato nacional. "O que nós fazemos em geral é tentar melhorar a liga. Assim podemos ter clubes melhores, jogos melhores e mais público", diz.

Doutor em economia e professor da Universidade de KwaZulu-Natal, Patrick Bond é um dos intelectuais da África do Sul mais críticos ao legado da Copa do Mundo do país. Em poucos minutos de conversa com ele é possível ouvir o termo "elefante branco" mais de uma dezena de vezes.

"Isso não é exemplo", diz apontando para o estádio. "É um grande e lindo elefante branco. Não fazia o menor sentido construir um estádio desse tamanho. Ele nunca fica cheio e só dá prejuízo. A Copa do Mundo para Durban e para o todo país foi uma festa para a Fifa. É como aquela festa que você é convidado, bebe muito e se acha bonito. No outro dia o que fica é a ressaca. Para a África do Sul ficou a ressaca", completa.

Do alto do Moses Mabhida é possível ter uma visão completa do estádio Kings Park, casa do Natal Sharks, um dos times mais tradicionais de rúgbi da África do Sul. Apenas uma rua e 200 metros de distância separam as duas arenas. No projeto inicial da Copa do Mundo de 2010 estava previsto que o antigo estádio, usado há mais de 100 anos, mas reformado na década de 1990 para o Mundial de rúgbi, sediaria os jogos do torneio da Fifa em Durban. A ideia era remodelá-lo, ampliando sua capacidade para 70 mil lugares.

Num enredo semelhante ao que aconteceu em São Paulo em 2010, com a troca do Morumbi pelo Itaquerão como sede dos jogos da Copa, a Fifa e o governo local decidiram que era preciso um novo estádio na cidade. A reforma do Kings Park estava orçada em 54 milhões de rands, pouco mais de R$ 12 milhões. Cinco anos antes do Mundial, porém, o projeto foi abortado.

O Moses Mabhida surgiu, em 2005, com previsão de custo de R$ 450 milhões, que virou R$ 625 milhões dois anos depois. O estádio foi inaugurado em 2009 e custou R$ 850 milhões.

"É uma decisão, entre construir um novo estádio ou reformar um já existente, que você precisa fazer. E, na minha opinião, optamos pela escolha correta", defende o CEO do Comitê Organizador Local da Copa de 2010, Danny Jordaan. "A reforma ficaria mais cara do que o previsto. Então, foram tomadas essas decisões. A vida de um estádio é de 75 anos. Todos os estádios antigos foram construídos nos anos 60. Mesmo com reformas agora, você teria que reformar depois em poucos anos ou construir outro. A decisão foi: não vamos reformar para depois de 10 anos não podermos receber outro grande evento. Nos anos 1960, os estádios não tinham as demandas atuais, por causa da internet, da televisão, incluindo satélites, segurança. Quando você aloca tudo isso junto e vê o quanto gasta, você precisa fazer essa equação. A construção de um novo estádio tem que entrar nessa equação", explica.

Quase cinco anos após a inauguração do Moses Mabhida, a prefeitura de Durban ainda tenta convencer o time de rúgbi local a atravessar a rua e mudar-se para o novo estádio. A última proposta, feita em 2013, foi negada pelos dirigentes do Natal Sharks, que argumentaram que a transferência para o novo estádio não seria rentável.

O Kings Park também é propriedade da prefeitura, mas o clube o arrendou e consegue lucrar com a venda de ingressos e, principalmente, com naming rights e camarotes. O contrato vai até 2056. Até lá, o clube não pretende mudar-se para o novo estádio.

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