Eles descobriram que podiam mandar um robô próprio para a Lua, e não perderam a oportunidade. Isso foi há cerca de quatro anos, mas Thomas Kunze, um dos nove alemães que iniciaram o projeto Part-time Scientists (cientistas de meio período, em tradução literal), já não lembra exatamente as datas. O grupo de amadores iniciado por Kunze e os amigos cresceu, e hoje inclui mais de 100 pessoas em ao menos 20 países diferentes.
São pessoas como o gaúcho Cláudio Martins e o americano Wesley Faler, que estudam ou trabalham em um período e dedicam o tempo livre à construção do robô para viajar à Lua. Para chamar a atenção dos campuseiros da Campus Party Brasil neste ano, e fazê-los se interessar pela ideia, eles levaram à maior festa geek do planeta um protótipo de testes, que os participantes do evento puderam dirigir.
O rover, como é chamado em inglês, tem sinal sem fio e pode ser operado a partir de qualquer lugar do mundo. O robô pode andar normalmente para a frente e para os lados, como um carro, e também em círculos. Outro modo de operação faz com que ele se movimente em qualquer direção mas mantenha a placa solar, que capta a energia para movê-lo na Lua, sempre apontada para o Sol.
"A resposta das rodas é rápida, a dificuldade é que o sinal demora 1,5 segundo para ir até a Lua e mais 1,5 segundo para voltar, ou seja, são 3 segundos, tempo suficiente para o rover cair em uma cratera ou bater em algum obstáculo", explica Faler. O "volante", um controle por toque na tela de um tablet, pode ser programado para criar o atraso de resposta artificialmente.
"A versão 3 do rover vai ter uma placa da DLR (agência espacial alemã) e uma nossa, para garantir completa autonomia. Mas o desafio do Google exige que o robô seja controlado por operadores humanos do lançamento até a chegada, e ainda por 500 metros em solo lunar", explica Faler. O "desafio do Google" a que ele se refere é o concurso Lunas X Prize, que vai dar US$ 30 milhões à equipe que conseguir enviar uma sonda particular à Lua até 31 de dezembro deste ano. A expectativa do americano e do fundador alemão da equipe Hell, Yeah, it's Rocket Science é que alguns brasileiros se interessem pelo projeto e se integrem a ele.
Cientista de meio período
Falar, o programador da Califórnia, entrou na equipe há cerca de três anos, graças à indicação de um amigo, e veio à Campus Party Brasil, no início do mês, pela primeira vez. "Nem sabia que existia Campus Party, isso aqui é incrível. Nos Estados Unidos, em conferências, vamos de uma palestra para a outra, não temos esse espaço para conversar, trocar conhecimentos. Aqui as pessoas batem no nosso ombro e dizem 'olá'", comenta.
E não é só conversa. Faler e seus companheiros montaram um boot camp, espécie de oficina, que inclui o tema da astronomia e da robótica, entre outros. Lá, os campuseiros puderam conhecer o projeto e colocar a mão na massa. "Notei que no Brasil as universidades dão muita ênfase à teoria, então aqui há um espaço para os estudantes praticarem", diz o americano.
Os cientistas de meio período também aprendem na atividade. "Eu, que sou um dos gerentes, estou aprendendo a coordenar equipes. E também aprendi um pouco sobre eletrônica, que não é muito a minha especialidade", enumera o programador. Além das trocas de conhecimento o grupo também tenta mostrar aos jovens interessados que as tecnologias necessárias ao lançamento de um foguete privado ao espaço ainda estão se formando, e que "este é o momento para quem quer entrar no ramo".
O Hell, Yeah agora está com foco em sensores, por isso esse é o tema central do boot camp. O programador americano explica que há uma "corrida aos asteroides", com grandes empresas interessadas em explorar platina no espaço. "Mas para fazer essa 'mineração espacial' eles precisam de bons sensores para controlar os robôs (que farão a mineração)", continua Faler. A proposta do grupo é fazer um sensor que seja bem mais barato, mas que seja eficiente por causa de "fortes algoritmos e software".
Via Terra
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